Citada por ministra da Agricultura, teoria do “boi bombeiro” é cascata, dizem especialistas

Da BBC Brasil.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou nesta sexta-feira (9) em audiência pública no Senado que as queimadas que têm consumido o Pantanal seriam menos intensas caso houvesse mais gado no bioma.
Ao comer capim seco e inflamável, segundo ela, o boi acabaria prevenindo o avanço do fogo.
A ministra não é a única a defender o “boi bombeiro”.
O presidente da República, Jair Bolsonaro, e o titular do Meio Ambiente, Ricardo Salles já defenderam que uma suposta “perseguição” à criação de gado solto na região seria uma das razões para a piora das queimadas na região, além das restrições ao manejo do fogo em pastagens e em reservas ambientais.
O argumento é que proibições às queimadas preventivas em fazendas e em reservas ambientais provocaram o acúmulo de matéria orgânica (mato, galhos e folhas secas), que depois serviu de combustível para os incêndios.
Essas teorias, porém, não procedem. Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil explicam que a criação de gado aumentou no Pantanal nos últimos anos, ao invés de diminuir — o que contradiz a ideia de que o boi pantaneiro seria fundamental para impedir incêndios.
Além disso, o boi criado solto, ao comer o capim, ajudaria a diminuir a quantidade de material disponível para a queima — nos últimos anos, a diminuição do rebanho no Pantanal teria impedido o “boi bombeiro” de cumprir seu papel no controle do fogo.
Na verdade, um dos principais motivos para os incêndios é o clima: o pantanal vive a pior seca dos últimos 60 anos, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
As queimadas no Pantanal neste ano são consideradas as piores em décadas. Cerca de 15% da área do bioma já foi consumida pelo fogo até agora. A labaredas já destruíram uma área de 2,3 milhões de hectares no bioma — o equivalente ao Estado de Sergipe, ou quatro vezes a área do Distrito Federal.
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