Apoie o DCM

Classe média se levantou contra igualdade na Bolívia, diz ex-vice de Evo

O presidente da Bolívia, Evo Morales, e o vice-presidente, Álvaro García Linera (dir.), em evento na cidade de Trinidad – Aizar Raldes – 6.ago.2019/AFP

Do El País:

Álvaro García Linera, um dos ideólogos de esquerda mais influentes da América Latina e ex-vice-presidente da Bolívia com Evo Morales (2006-2019), acaba de visitar Madri. Exilado na Argentina, onde agora dá aulas em duas universidades, após sair com Morales do país em 10 de novembro, o intelectual (Cochabamba, 57 anos), que passou vários anos na prisão por ser cofundador do Exército Guerrilheiro Tupaj Katari, acha que o Movimento ao Socialismo (MAS) sobreviverá à ausência do líder. “Voltaremos quando a poeira tiver baixado”, afirma.

Qual é sua versão sobre o que aconteceu em 20 de outubro de 2019 quando a apuração das eleições presidenciais parou? Há os que falam em golpe de Estado e os que chamam de fraude eleitoral, como a Organização dos Estados Americanos (OEA). Um estudo de dois especialistas do MIT, publicado em um blog do Washington Post, afirma agora que não houve fraude.

O que aconteceu na Bolívia foi uma sublevação das classes médias tradicionais contra a igualdade que tomou, com o tempo, a forma de um golpe de Estado. De acordo com a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, um órgão da ONU), 30% dos bolivianos saiu da pobreza e entrou na classe média. As classes médias tradicionais veem, primeiro com preocupação e depois com pavor, como pessoas que vêm do mundo indígena adquirem o mesmo status que elas tinham.

O mal-estar se traduz em mobilizações contra o Governo e em um estado de ânimo muito conservador, muito racista, que dá suporte para que as forças da ordem não reconheçam a ordem constitucional e peçam a renúncia do presidente [Evo Morales]. É uma mistura de ação social com um golpe de Estado. A ideia de fraude foi uma construção. Conseguiram instalar a opinião de que iria ocorrer e não o demonstraram.

(…)