Colunista da Folha defendeu venda de órgão: “proibição não melhora a vida da pessoa”
O historiador Jones Manoel lembrou no Twitter de um texto escrito por Joel Pinheiro da Fonseca, filósofo e colunista da Folha de S.Paulo, defendendo venda de órgãos. Ele foi escrito no Instituto Mises em 2015.
Joel resolveu ainda defender o absurdo na rede social. E escreveu o seguinte:
O picareta Jones Manoel, em meio a insultos gratuitos pra lacrar entre seus fãs, ressuscitou um texto meu sobre a venda de órgãos. O tema é polêmico – minha opinião mudou de várias maneiras – e não é nem de longe simples como os indignadinhos de plantão sonham. Segue o fio!
A ideia básica de um mercado de órgãos (não-vitais) é que, podendo vender, a oferta de órgãos seria muito maior, e isso reduziria drasticamente a fila dos transplantes, evitando muitas mortes. Além disso, a pessoa que vendeu o órgão sai com um bom dinheiro em mãos.
É um absurdo alguém vender um órgão? Ora, mas a gente aceita que a pessoa doe um órgão. Ou seja, que venda a preço ZERO. Se ela pode dar de graça, e não vemos problema nisso, pq é um problema permitir que, ao invés de sair de mãos vazias, ela ganhe com essa ação?
Como a ideia é tabu, temos poucas experiências a respeito. Mas há um país que permitiu a venda de órgãos: o Irã. A fila de espera para rins é muito menor que nos EUA. Como tudo, tbm há abusos, mas o sistema tem defensores na classe médica.
Alguns ficam indignados pela pessoa que vende o órgão. Provavelmente é alguém que passa alguma necessidade. Mas veja: a proibição de vender o órgão não melhora em nada a vida da pessoa. Pelo contrário, apenas tira dela uma possibilidade de renda. O q há de caridoso nisso?
Se uma pessoa vê a venda de um órgão seu como o melhor caminho para obter um dinheiro necessário agora, quem é você para proibi-la e deixá-la sem o dinheiro? Sua “boa intenção” apenas aprofunda a pobreza da pessoa sem lhe dar nenhuma ajuda. Esse é UM lado do problema.
Contudo – e foi aqui que eu mudei em minha posição – muitas vezes é sim possível ver que a pessoa faz uma má escolha para ela mesma. Que ela não pesa o benefício de agora de forma minimamente razoável com as limitações futuras (pelo resto da vida) de não ter um órgão.
Assim como mtass pessoas topam empréstimos com termos suicidas e até vendem a própria liberdade por um dinheirinho de jogo se deixadas completamente livres (foi preciso lei pra acabar com a escravidão por dívida), podem fazer péssimas escolhas na hora de vender um órgão.
O melhor jeito de evitar essas escolhas é melhorar a vida delas, prover mais oportunidades, segurança social e dar melhor educação, para que não tomem decisões no desespero. E vender um órgão, ao contrário de um empréstimo extorsivo, é praticamente irreversível.
Quanto maior a desigualdade e pobreza no país, ademais, maior o potencial dessas decisões desesperadas acontecerem. Assim, se fôssemos implantar o sistema, no mínimo um acompanhamento psicológico bem-feito e um tempo de espera para a pessoa pessoar seriam necessários.
Na falta disso, acho prudente não arriscar. Contudo, sem esquecer do custo que a proibição nos traz: em 2016, mais de 2000 pessoas morreram à espera de um órgão. Se a venda fosse permitida, esse número seria menor. E ainda haveria pessoas com mais dinheiro em mãos.
Longe do tabu e da lacração na internet, a realidade é feita de escolhas duras. Uns buscam um guru. Jones Manoel está aí pra eles. Quem faz questão de pensar, contudo, precisa de mais. Permitir venda de órgãos ou não? A pressa de uns e o moralismo de outros custam vidas.
Ah sim! Vale lembrar que, como toda atividade humana, não é pq vc proibiu que ela deixa de existir. Ela continua ocorrendo, mas de forma mto mais exploratória aos mais vulneráveis.
É mole?
O picareta Jones Manoel, em meio a insultos gratuitos pra lacrar entre seus fãs, ressuscitou um texto meu sobre a venda de órgãos.
O tema é polêmico – minha opinião mudou de várias maneiras – e não é nem de longe simples como os indignadinhos de plantão sonham. Segue o fio! 1/n
— Joel Pinheiro ?? (@JoelPinheiro85) January 16, 2020