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Com seus habeas corpus para operadores do PSDB e MDB, Gilmar é o cabo eleitoral do lulismo

No ValorMaria Cristina Fernandes diz que Gilmar Mendes ajuda a perpetuar o lulismo com sua generosidade em conceder habeas corpus a operadores do PDSB e MDB.

“O lulismo perdeu um adversário que ameaçava reconfigurar a esquerda e ganhou um cabo eleitoral para a estratégia de vitimização”, afirma ela.

O adversário era Joaquim Barbosa.

O ministro Gilmar Mendes está por merecer, do PT, uma estátua, a ser fincada diante das dependências da Polícia Federal em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está preso em Curitiba. O ministro foi um dos principais artífices da saída que tinha por objetivo manter Lula livre, mas longe das urnas. Obstruída a alternativa, com a qual também se beneficiaria seu grupo político, instalou uma linha de produção de habeas corpus para operadores do PSDB e MDB. Não se ouviram panelas ou generais. Nessa toada, só vai entrar na cadeia quem tiver crachá do PT. Em sua desabalada produtividade, o ministro terá conseguido o inverso do pretendido. Se o ex-presidente pagar esse pato sozinho, o lulismo sobreviverá eleitoralmente ainda que sua principal liderança permaneça encarcerada.

O ex-presidente sempre tomou decisões a partir de suas conversas. Ouve todos os lados e opta por um caminho. Como as visitas só acontecem às quintas-feiras, em duplas, desde que foi encarcerado, Lula só conseguiu conversar com quatro petistas: a presidente do partido, a senadora Gleisi Hoffmann, o ex-governador Jaques Wagner, o tesoureiro do partido, Emídio de Souza e o diretor do Instituto Lula, Paulo Okamotto. Hoje Gleisi voltará a Curitiba na companhia do ex-prefeito Fernando Haddad. Por enquanto, é ao PT que se restringe. Pode até receber cartas, mas estará privado de observar as reações e ler pelas entrelinhas.

Se os interlocutores são escassos, os fatos não o são. Desde sua prisão, a melhor notícia para o ex-presidente foi a saída do ex-ministro Joaquim Barbosa do páreo. Some-se aí a reiterada sorte de Gilmar Mendes com a distribuição de habeas corpus no Supremo. O lulismo perdeu um adversário que ameaçava reconfigurar a esquerda e ganhou um cabo eleitoral para a estratégia de vitimização. Sua causa, para além do circuito militantes, igreja, artistas e intelectuais, ganhou esta semana a subscrição de seis ex-chefes de Estado europeus, entre eles François Hollande e José Zapatero. (…)

Steinbruch entraria para garantir o combo do Centrão. Se há veto contra Maia, que Ciro aceite o ex-patrão na vice e feche com a reeleição do deputado carioca para a Presidência da Câmara dos Deputados. Para além do reino das hipóteses, de concreto mesmo só a percepção de que no barco do ex-governador Geraldo Alckmin não dá para embarcar. Se tudo der errado, lá estarão todos no dia 2 de fevereiro para o início dos trabalhos no Congresso. Como diz o mantra de Ciro Nogueira que magistrados como Gilmar Mendes ajudam a perpetuar, eles estão sempre lá, quem muda é o governo.

Com um combo como este, Ciro custaria a emplacar como o novo que o eleitor está a buscar. PT e PSB não oferecem grande vantagem neste quesito, mas teriam a vitimização de Lula como escudo. O adversário preferido de um e outro, se ambos vierem a ultrapassar a ex-senadora Marina Silva (Rede), é o deputado Jair Bolsonaro (PSL). De Haddad, porque agregaria o centro. De Ciro, porque atrairia a esquerda. Mas aí se somam planos demais para definição de menos, a começar do PSB. Nenhuma aliança se concretizará antes das convenções de julho, tempo suficiente para o presidiário de Curitiba expandir seu rol de interlocutores e o cabo eleitoral de toga ampliar os serviços prestados.

Cabo eleitoral do lulismo