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Como Bolsonaro usou aliados nos estados e municípios para difundir uso da cloroquina

Bolsonaro recomenda uso de cloroquina contra Covid-19 em vídeo de 9 de julho de 2020 — Foto: Reprodução/YouTube

De Bernardo Mello, João Paulo Saconi e Rayanderson Guerra no Jornal Extra.

Mesmo depois que estados começaram a devolver a cloroquina enviada pelo Ministério da Saúde no ano passado, diante de evidências de ineficácia da substância contra a Covid-19, o governo federal insistiu no envio de um volume similar de comprimidos para todo o país, priorizando gestões estaduais e municipais alinhadas ao discurso do presidente Jair Bolsonaro. Levantamento do GLOBO com dados do Localiza SUS aponta que, de setembro a dezembro, 1,5 milhão de comprimidos foram devolvidos pelos estados. A partir do mesmo período, o governo Bolsonaro enviou mais 1,3 milhão de comprimidos, sendo 80% para aliados. Na primeira leva, de março a agosto, menos de 40% haviam chegado a gestões bolsonaristas.

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Desde o fim do primeiro semestre de 2020, entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e órgãos de referência como o Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos já desaconselhavam o uso da cloroquina em pacientes infectados pelo coronavírus. A gestão do ministro Eduardo Pazuello seguiu enviando medicamentos ineficazes impulsionada por uma doação de hidroxicloroquina do governo Donald Trump, que não utilizava mais o remédio — 609 mil comprimidos deste lote foram distribuídos até o mês passado, já na gestão de Marcelo Queiroga. Em paralelo a isso, o governo levou sete meses para assinar o contrato de compra de vacinas da Pfizer, prazo que foi alvo de questionamentos na CPI da Covid no Senado.

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Entre os estados com gestões alinhadas a Bolsonaro, Minas Gerais, Santa Catarina, Amazonas e Roraima respondem por metade (646 mil) dos comprimidos distribuídos pelo Ministério da Saúde desde setembro. Nenhum desses estados informou ter devolvido cloroquina ao governo, mesmo diante da falta de eficácia.

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