Como calcular expectativa de vida e por que a pandemia derrubou a dos recém-nascidos

A expectativa de vida ao nascer costuma ser mencionada como indicador de progresso, mas o conceito nem sempre é intuitivo. Ela pode ser calculada de duas formas: o método longitudinal acompanha uma população específica do nascimento até a morte de todos os seus integrantes, gerando a média exata de anos vividos, mas sempre olhando para o passado, enquanto o transversal, o mais usado, calcula a expectativa de vida com base na mortalidade observada em um único ano, como uma fotografia daquele período, sem prever melhorias futuras.

Segundo a coluna Frankito, o Curioso no Estadão, essa fotografia anual revela como as mortes se distribuem na população: taxas relativamente altas na primeira infância, queda nas idades seguintes, novo aumento no início da vida adulta e aceleração progressiva na velhice. Na pandemia, essa curva mudou. As mortes cresceram de forma abrupta não só entre idosos, mas também a partir dos 30 anos. Mesmo que a mortalidade infantil não tenha aumentado, o impacto nos demais grupos etários distorceu toda a projeção feita para os recém-nascidos daquele ano.

No cálculo transversal, um bebê nascido em 2021 tem sua expectativa estimada como se vivesse toda a vida futura sob o mesmo padrão de mortalidade daquele ano atípico. Ou seja, considera-se que ele enfrentaria riscos muito maiores de morte na vida adulta, o que puxa a média geral para baixo. Em anos normais, como ocorreu ao longo de décadas, a queda contínua da mortalidade infantil e juvenil é justamente o principal motor para o aumento constante da expectativa de vida.

Esse fenômeno também explica por que a expectativa de vida aos 80 anos mudou pouco ao longo do tempo: o grande avanço não está nos anos adicionais após essa idade, mas no número crescente de pessoas que chegam lá. A pandemia interrompeu temporariamente essa tendência global, derrubando a expectativa de vida até para bebês. Superado o período de exceção, os indicadores voltaram ao padrão habitual, impulsionados pela melhoria das condições de vida e pelos avanços médicos em todas as faixas etárias.