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Condenação de Lula aumenta polarização e favorece outsider como Bolsonaro, diz professor da FGV

 

Da Exame:

Para o cientista político Claudio Couto, professor do Departamento de Gestão Pública da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, um dos principais efeitos da condenação é a fragilização dos políticos tradicionais e o aumento da polarização entre os eleitores. Tudo isso nubla ainda mais o cenário para 2018. “Favorece também o surgimento de um outsider de posição política extrema. E o nome mais evidente é o de Jair Bolsonaro”.

Temos pela primeira vez um ex-presidente condenado, qual a consequência imediata no mundo político?

O resultado é ambíguo, por ora. Por um lado, você tem um processo de martirização do ex-presidente Lula, que faz com que o setor simpático a ele o considere ainda mais como uma vítima de um processo de perseguição jurídica. É a narrativa que Lula, seus aliados e advogados vinham imprimindo à história da Operação Lava-Jato, assim como boa parte da esquerda brasileira que não é necessariamente ligada ao PT. Por outro lado, os seus detratores, sejam os localizados mais claramente à sua direita no espectro político ou apenas aqueles que o viam como responsável por atos de corrupção, veem a confirmação de suas expectativas. O efeito dessas reações antagônicas é uma exacerbação do processo de polarização política. Um lado não quer dialogar com o outro. A polarização que já existia, tende a se aprofundar. É o grupo da “perseguição” versus o “fazer Justiça”. É uma tendência geral de radicalização.

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A situação afeta a eleição para o PT no Congresso?

Não ajuda, mas há um problema que precede Lula: o distanciamento entre disputas presidenciais e para o Congresso. No Executivo, a eleição é mais personalista e há um desgaste dos nomes da classe política tradicional. A chance de um nome novo ou carismático aumenta. Favorece também o surgimento de um outsider de posição política extrema, algo diferente do que está aí. E o nome mais evidente é o de Jair Bolsonaro. No Legislativo, a dinâmica tende a ser a de manter o andamento tradicional da política e, consequentemente, o esperado é a recondução de políticos de carreira. Será um Congresso não muito diferente do que temos hoje. E nesse cenário, o PT já não vivia uma situação muito boa. A tendência ainda nesse contexto era de dificuldade de eleger uma bancada significativa. Um dos indicadores de previsão de eleição no Congresso é a eleição municipal de dois anos antes. Nestas últimas, o PT foi devastado. Com ou sem Lula, eles teriam dificuldades ano que vem. Sem Lula piora, mas seria ruim de qualquer forma. Era um partido que pregava justamente ser diferente do que estava aí, mas se tornou igual aos outros.

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