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Condomínio de um dos imóveis do casal Bretas equivale ao valor de um auxílio-moradia

Está na Piauí um retrato do moralismo do juiz Marcelo Bretas, o assim chamado “Sergio Moro” do Rio de Janeiro:

Diferentemente de pelo menos outros 19 magistrados, o casal de juízes federais Marcelo da Costa Bretas e Simone de Fátima Diniz Bretas conseguiu na Justiça o direito de receber, cada um, 4.378 reais de auxílio-moradia. Além de incomum, o acúmulo do penduricalho envolve falhas administrativas do Judiciário que retardaram em 29 meses o recurso da Advocacia Geral da União contra a sentença favorável aos Bretas. O marido é a face mais conhecida da Lava Jato no Rio de Janeiro. Foi quem mandou o ex-governador Sérgio Cabral para a cadeia.

A falha no processo foi questionada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes. Em ofício despachado na quarta-feira, 11 de abril, ele determinou que o Conselho Nacional de Justiça e a Corregedoria do Tribunal Regional Federal no Rio de Janeiro investiguem por que a AGU demorou tanto tempo para apelar da sentença que beneficiou Bretas e outros quatro juízes fluminenses. (…)

O que não se sabia à época é que o patrimônio imobiliário construído pelo casal é de 6,4 milhões de reais e inclui também três apartamentos residenciais na Zona Sul carioca – segundo levantamento feito pela piauí. Entre eles, um de 430 metros quadrados no bairro do Flamengo, com quatro suítes, vista para o Pão de Açúcar e para a baía de Guanabara, cuja taxa de condomínio é o equivalente ao valor de um auxílio-moradia. (…)

O patrimônio imobiliário do casal de magistrados foi construído ao longo de 25 anos, 20 dos quais após eles se tornarem juízes. Durante quase todo esse período, eles não recebiam auxílio-moradia. O valor dos bens declarado nas escrituras em cartório é compatível com a renda mensal líquida do casal, de 87,5 mil reais por mês. (…)

Após atuar por dois anos como promotor de Justiça no Rio, Bretas tornou-se juiz federal no fim de 1997, e a mulher, um ano depois. Ambos foram trabalhar em Petrópolis, na serra fluminense. No intervalo entre a promotoria e a magistratura, Marcelo ampliou o patrimônio do casal com a compra de um apartamento na Barra da Tijuca por 434 mil reais, em valores da época. Em 2006, o casal permutou o apartamento em Laranjeiras por outro em Botafogo, de igual valor.

No primeiro semestre de 2011, os Bretas compraram um apartamento no Flamengo, por 750 mil reais, e outro em Botafogo, por 400 mil reais – esse último bem seria vendido em outubro de 2015 por 1,9 milhão de reais.

Em julho de 2015 ocorreu o maior e mais recente investimento imobiliário dos Bretas, o apartamento onde o casal reside hoje, no Flamengo. O imóvel ganhou notoriedade em 2016, quando uma revista de arquitetura publicou fotos de seus ambientes. O apartamento foi comprado por 5 milhões de reais, dos quais 3,3 milhões à vista. A parte financiada deveria ter sido quitada em algumas dezenas de parcelas de 19,3 mil reais. Mas, em dezembro de 2015, após serem transferidos de Petrópolis para o Rio, quitaram integralmente o financiamento.

Graças ao auxílio-moradia e a outros penduricalhos, o salário de ambos ultrapassa o teto salarial do funcionalismo público brasileiro, que é de 33.763 reais. Marcelo, atual titular da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, ganha 43.459,85 reais mensais, enquanto Simone, titular do 5º Juizado Especial Federal Cível, recebe 44.104,85 reais, segundo o Tribunal Regional Federal da 2ª Região. (…)

O apartamento do casal Bretas no Rio, em foto para revista de arquitetura (reprodução do Facebook)