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“Conheci e perdoei o índio isolado que me flechou no rosto”, diz ex-sertanista da Funai José Meirelles

Da BBC Brasil.

Com a ajuda de um intérprete, o sertanista José Carlos Meirelles conversava com um grupo de índios recém-contatados nas cabeceiras do rio Envira, área de Floresta Amazônica no extremo oeste do Acre.

Os indígenas, membros do povo Tsapanawa, contavam histórias de confrontos com o grupo inimigo Mashco Piro. Meirelles então mostrou a cicatriz de um ataque que ele próprio havia sofrido uma década antes naquela mesma área, perto da fronteira com o Peru. Uma flecha lhe atravessou o rosto da bochecha à nuca, encharcando sua roupa de sangue e quase lhe tirando a vida.

Um indígena riu ao ouvir o relato. “Ele apontou e falou: ‘lá está o cara que te flechou'”, conta Meirelles à BBC News Brasil.

A revelação poria fim a um período conturbado na relação dos Tsapanawa com servidores da Funai (Fundação Nacional do Índio) liderados por Meirelles e escalados proteger o território do grupo.

Também encerraria um capítulo nos quase 50 anos de carreira que o sertanista dedicou à proteção de indígenas isolados – experiência que lhe rendeu muitos ensinamentos sobre a vida nas matas, mas também momentos de pânico e dor, como quando diz ter “matado um índio para sobreviver”.

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Nascido em São Paulo, José Carlos Meirelles abandonou a faculdade de engenharia para se dedicar à proteção de povos indígenas isolados na Amazônia, onde passou quase meio século vivendo nas matas — Foto: Arquivo pessoal