Coordenador da Lava Jato diz que Lula pode ser preso em 30 ou 60 dias
O delegado Igor Romário de Paula, coordenador da Lava Jato, deu entrevista ao UOL:
UOL: Um delegado da equipe da Lava Jato afirmou, recentemente, que se perdeu o “timing” para prender o ex-presidente Lula. O senhor concorda?
Igor Romário de Paula: É complicado falar em perder timing. Os requisitos para uma prisão preventiva são bastante objetivos. Lá atrás, na fase 24 da Lava Jato, quando houve a representação do Ministério Público [pela condução coercitiva de Lula, em março], não existiam os requisitos para um pedido de prisão do ex-presidente. Não acho que a gente perdeu o timing. Esse timing pode ser daqui a 30 dias, a 60 dias. A investigação que envolve o ex-presidente Lula é muito ampla.
Então o senhor não concorda com a afirmação de seu colega?
Não. O timing pode ser daqui a pouco. Não vejo nem perda de tempo nem condescendência com o fato de se tratar um ex-presidente. O próprio juiz Sergio Moro já mostrou que ele não leva isso em consideração quando toma suas decisões. Esse timing pode ser mais para frente, pode não ser aqui, pode aparecer nas investigações que acontecem em Brasília.
NA BAHIA, LULA DIZ QUE SERÁ CANDIDATO “SE NECESSÁRIO”
O ex-presidente Lula afirmou que a Lava Jato tem “dedo estrangeiro”. Já a ex-presidente Dilma declarou que a operação tem “interesses escusos”.
Não vejo isso. Falo por mim e pela equipe que trabalha aqui: se houvesse algum tipo de interesse desse tipo ou de ingerência, nenhum de nós estaria aqui trabalhando. Dizer que há interesses internacionais é absurdo, não há nenhum fundamento. Dizer que a Lava Jato prejudica a economia brasileira é você botar a culpa na pessoa que encontrou o corpo em uma cena de homicídio. Há um desgaste para o país, claro, mas talvez ao final disso tudo o resultado seja muito mais positivo ao estancar a sangria da corrupção.
Quando os inquéritos sobre o sítio de Atibaia e palestras feitas pelo ex-presidente do Lula serão finalizados?
Em um deles falta um laudo pericial para que seja finalizado. E em outro, um detalhe de ordem técnica. Os dois estão sob a incumbência do delegado Márcio Anselmo [integrante da equipe coordenada por Igor Romário]. Eu imagino que, no máximo, em 30 dias esses inquéritos estarão concluídos.
MORTE DE TEORI
Nos últimos dias, as redes sociais foram tomadas por várias especulações sobre uma suposta sabotagem do avião em que estava o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki. A PF detectou, ao longo da investigação da Lava Jato, ameaças a ele e a outras autoridades ou delatores ligados à investigação?
Não detectamos ameaças concretas contra investigadores da PF, nem contra procuradores, nem contra o próprio juiz Sergio Moro. Nunca chegou ao meu conhecimento informes sobre ameaças concretas contra ministros do STF.
O que a gente enfrentou durante muito tempo — e nos levava a dispor de procedimentos de segurança, a exemplo da escolta de Sergio Moro — foi uma animosidade em alguns momentos nas redes sociais. O risco é avaliado e a gente faz um monitoramento [nas redes sociais] sobre o tudo o que está sendo dito sobre as autoridades envolvidas. Mas nunca houve casos de ameaças concretas ou de tentativas de agressão. Por incrível que pareça, não.
Qual sua opinião sobre o acidente que vitimou o ministro Teori Zavascki?
A impressão que eu tenho é que foi uma baita de uma coincidência negativa. Não vejo e nem temos nenhuma informação que leve à suspeita que tenha acontecido um atentado. Digo até isso até pela minha experiência profissional anterior, que é a de controlador de voo. Eu também trabalhei na investigação de acidentes aéreos. O caso foi um acidente.
Houve um aumento na segurança do juiz Sergio Moro?
Não. Ele continua com a segurança que é feita por servidores de Justiça Federal, que inclui carro blindado, por exemplo. E nos eventos externos tem-se o apoio da Polícia Federal. Mas não houve nenhuma alteração do nível de segurança.