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Corretora fez operação suspeita no dia em que Bolsonaro anunciou mudanças na Petrobras, diz jornal O Globo

Corretora fez operação suspeita após reunião em que Bolsonaro decidiu pela saída do presidente da Petrobras

Editorial do Globo desta quarta, 3, traz grave denúncia sobre possível suspeita de informação privilegiada na Petrobrás no dia em que Bolsonaro anunciou que alguma ‘coisa aconteceria’ na estatal – era a troca do presidente Roberto Castello Branco pelo general Joaquim Silva e Luna.

Com a decisão pela saída de Castello Branco, segundo o jornal, a plataforma da corretora Tullett Prebon começou a ser usada para comercialização de ações da estatal e obteve lucro milionário.

Os sinais de ilegalidade são eloquentes, segundo o texto. Leia trechos.

É para lá de suspeita a transação com ações da Petrobras revelada ontem pelo blog da colunista Malu Gaspar no site do GLOBO.

No final da tarde do dia 18, apenas 20 minutos depois da reunião em que o presidente Jair Bolsonaro discutiu a troca na presidência da empresa, a plataforma da corretora Tullett Prebon começou a ser usada para uma operação inusitada.

Em duas rodadas de negociação, foram compradas 4 milhões de ações da Petrobras com a opção de vendê-las na segunda-feira seguinte por 8% abaixo do valor a que os papéis eram cotados naquela quinta-feira.

Horas depois, naquela mesma noite, Bolsonaro soltou numa transmissão digital que “alguma coisa” aconteceria na estatal. A queda de Roberto Castello Branco, até aquele momento presidente da empresa, foi anunciada no dia seguinte.

De acordo com os registros da B3, nunca houve movimentação tão grande nos papéis negociados na operação suspeita. Pelos cálculos apresentados, as opções custaram R$ 160 mil e podem ter rendido aos donos até R$ 18 milhões. Os sinais de uso de informação privilegiada são eloquentes.

A corretora, que não respondeu à indagação da colunista, na certa alegará sigilo financeiro para não revelar de onde partiram os pedidos para a compra dos papéis. Mas a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tem obrigação de investigar o caso com urgência.

Seria pedagógico, já que são raras, no Brasil, as punições pelo crime conhecido no mercado como “insider trading”. Um levantamento da própria CVM com dados entre 2013 e 2018 verificou que apenas 8% de quase 400 julgamentos realizados tinham relação com informações privilegiadas.

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Corretoras têm o dever legal de manter os registros, ordens, gravações de telefonemas e até filmes da sala de operações. Também não será difícil descobrir se há alguma conexão com a reunião daquela tarde, a que estiveram presentes apenas Bolsonaro, os ministros Bento Albuquerque (Minas e Energia), Paulo Guedes (Economia), Tarcísio Freitas (Infraestrutura), Walter Braga Netto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional). A pena para o crime de informação privilegiada pode chegar a cinco anos de prisão, com multa de até o triplo do valor obtido ilegalmente.

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