Costumes de inverno que marcaram época e quase desapareceram

Antes dos aquecedores modernos e cobertores elétricos, o inverno brasileiro era vencido com criatividade e calor humano. Quem cresceu nas décadas de 1960 a 1980 certamente se lembra de costumes que hoje parecem saídos de um filme antigo — mas que eram parte do cotidiano em tempos de frio intenso, especialmente nas regiões Sul e Sudeste.
Entre as práticas mais lembradas está o hábito de esquentar a cama com um tijolo embrulhado em pano ou uma garrafa de água quente. Colocados aos pés da cama minutos antes de dormir, eram a solução doméstica mais popular contra lençóis gelados em casas sem aquecimento. Outro ritual comum era o uso do Vick VapoRub no peito, coberto por um pano de flanela — um gesto que misturava cuidado e crença caseira no combate ao resfriado.
Para enfrentar o frio fora de casa, colocar jornal dentro do sapato era uma técnica acessível e eficaz: funcionava como isolante térmico, mantendo os pés aquecidos durante as manhãs escolares ou as longas jornadas de trabalho. Já os cobertores — sempre guardados por meses — eram pendurados ao sol nos dias claros para “tirar o gelo” e resgatar o cheiro de tecido aquecido, memória afetiva de muitas infâncias.
Entre os “remédios” da época, um clássico era o conhaque com mel e limão, preparado pelos mais velhos como fórmula contra a tosse e o frio — e oferecido, com moderação, até às crianças. E, quando o frio apertava mesmo, muitas famílias acendiam latas com carvão ou brasas dentro de casa para esquentar os ambientes. Embora eficaz, a prática era arriscada e acabou caindo em desuso com a chegada de soluções mais seguras.
Esses costumes, hoje quase esquecidos, revelam como o brasileiro atravessava o inverno com simplicidade, afeto e engenhosidade — e como o frio, antes de ser vencido com tecnologia, era enfrentado com soluções improvisadas e calor de dentro pra fora.