‘Crise entre Legislativo e Judiciário é a maior da história recente do país’, diz historiador Boris Fausto
Da BBC Brasil:
Se publicasse agora uma nova edição de História do Brasil, livro didático número 1 dos principais vestibulares do país, Boris Fausto talvez escrevesse o que disse à BBC Brasil na tarde desta terça-feira: “Com essa gravidade e este impacto, a crise entre Legislativo e Judiciário é a maior da história recente do país”.
Aos 86 anos, o historiador e cientista social, três vezes ganhador do prêmio Jabuti (de literatura), referia-se à recusa do senador Renan Calheiros em obedecer a uma decisão do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou seu afastamento da presidência da Senado após se tornar réu – em um dos 12 inquéritos que enfrenta.
Nesta terça-feira, a decisão de Marco Aurélio foi submetida ao conjunto de ministros no plenário do STF. O resultado se inverteu e Renan foi mantido no cargo – apesar de não poder mais figurar entre os possíveis sucessores imediatos do presidente Michel Temer.
“É um arranjo estranho. Uma fórmula para diminuir o fogo da crise. Mas não elimina a crise”, avalia Fausto.
À BBC Brasil, o historiador elogiou a Operação Lava Jato, comentou o que classifica como “riscos” das manifestações de rua e das 10 medidas contra a corrupção. Fausto também comparou o momento atual e o do golpe militar de 1964 e ainda avaliou o governo Temer (“que não sabemos se chega ao vim”).
E deu um recado ao juiz Sergio Moro – que nos últimos dias voltou a despertar controvérsia graças a uma foto em que aparece, rindo, ao lado do senador Aécio Neves (PSDB).
‘Se eu pudesse dar um conselho, do alto de muitas décadas de experiência, eu diria a ele: ‘Não apareça muito, do alto da sua função. Não é prudente. Não acho bom’.
Leia os principais trechos da entrevista:
BBC Brasil – Numa perspectiva histórica, como avalia a recusa de Renan Calheiros à determinação do ministro Marco Aurélio pelo seu afastamento da presidência do Senado?
Boris Fausto – É uma coisa gravíssima. Este desencontro entre a mesa do Senado e o Supremo, embora todos os ministros não apoiassem a resolução de afastar o Renan, mostra que entramos em uma nova fase: a crise do funcionamento das instituições.
Até aqui, dizia-se que as instituições estavam preservadas e que o trabalho da Lava Jato prosseguia. Mas, agora, ultrapassamos este momento, e a harmonia entre poderes começa a ruir. Isso ocorre justamente quando todas as apurações (sobre corrupção) que vêm desde o impeachment estão se processando. É uma situação de enorme desestabilidade.
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