Cunha atuou para abrir setor de saúde em operação que interessava ao BTG Pactual
Do Valor:
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), teve atuação decisiva na mudança de legislação que permitiu a venda da Rede D’Or a investidores estrangeiros. A operação interessava ao setor, mas em especial ao BTG Pactual, que poucos meses depois da aprovação das novas regras embolsou R$ 1,6 bilhão com a venda de ações na rede de hospitais para o Fundo Soberano de Cingapura (GIC). Ontem, o banco fechou a venda de outra parcela da Rede D’Or para os mesmos investidores, desta vez por R$ 2,38 bilhões.
Vedada até dezembro do ano passado, a participação de estrangeiros no setor hospitalar nacional foi autorizada após uma manobra do deputado federal Manoel Júnior (PMDB-PB), que coordena a defesa de Cunha no Conselho de Ética e chegou a ser indicado ao Ministério da Saúde. O parlamentar aproveitou a tramitação da Medida Provisória 656, que tratava de redução de tributação sobre importações, para incluir uma emenda liberando o investimento externo nos hospitais brasileiros.
O “jabuti”- como são conhecidas as emendas completamente estranhas ao objeto da medida provisória – chegou a ser barrado pelo então presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), mas Cunha, que na época era líder do PMDB e revisor da MP, entrou com recurso e garantiu a aprovação da emenda pelo plenário. Em janeiro deste ano, a medida provisória foi sancionada e convertida em lei. Poucos meses depois, em maio, o fundo GIC comprou R$ 3,2 bilhões em ações da Rede D’Or, sendo metade adquirida do BTG e o restante da família Moll, fundadora da cadeia de hospitais.
A venda de participação na principal empresa privada do setor hospitalar do país é uma das etapas mais importantes do plano de desinvestimento assumido pelo BTG após a prisão, no último dia 25, do seu fundador e ex-presidente, André Esteves. Ele é acusado de tentar obstruir as investigações da Operação Lava-Jato.
Procurado pela reportagem, o BTG informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não iria se manifestar sobre a tramitação da medida provisória.