Apoie o DCM

Depois de ser vaiado na posse, Aécio Neves buscará na Câmara sua sobrevivência política

Reportagem de Lucas Ferraz na BBC Brasil.

No discurso de despedida do Senado, em dezembro passado, Aécio Neves (PSDB) desabafou aos pares: “Tenho vivido dias extremamente difíceis, vocês podem imaginar. Mas não perco a minha fé”.

Quando ele finalizou a fala e desceu da tribuna, o que se viu destoou muito da liturgia parlamentar: não houve nenhum senador que o elogiasse ou fizesse aparte para mencionar alguma passagem de seus oitos anos no cargo, período em que mineiro quase virou presidente da República.

Transformado em político radioativo desde meados de 2017, quando foi afastado do Senado e quase preso nas investigações da Lava Jato, Aécio voltará neste ano à Câmara dos Deputados, onde começou sua ascensão nacional no início dos anos 2000. Será o lugar em que ele tentará sobreviver e se reerguer politicamente – tarefas consideradas difíceis até pelos aliados mais próximos.

Certo é que o mineiro ainda enfrentará dificuldades com a Justiça. O maior temor, ainda não afastado de todo por quem tem familiaridade com as investigações, é que o agora deputado federal seja preso.

Em dezembro, a Polícia Federal realizou duas operações – desdobramentos da principal, deflagrada em maio de 2017, após a delação dos donos da JBS – que apuram suposta propina de mais de R$ 120 milhões repassada pelos irmãos Batista para o tucano entre 2014 e 2017.

A acusação sustenta que esse dinheiro foi usado para comprar apoio à sua candidatura presidencial, o que sua defesa considera um absurdo.

Além de imóveis do senador, da irmã Andrea Neves e do primo Frederico Pacheco, estes dois presos temporariamente em 2017, os policiais também fizeram buscas no apartamento de sua mãe, Inês Maria, em um bairro nobre de Belo Horizonte.

Para Aécio, que saiu das eleições de 2014 como o principal nome da oposição, os eventos dos últimos dois anos mudaram sua carreira: de um dos políticos mais influentes do país a um com a imagem pública bastante abalada.

Um dos fiadores da posse de Michel Temer (MDB) no Planalto após o impeachment de Dilma Rousseff, Aécio foi fundamental para que o PSDB fizesse parte do governo. 

(…)

Aécio Neves. Foto: EBC