Depois do Novo eleger apenas 1 prefeito, Amoêdo quer que partido faça oposição a Bolsonaro

Pedro Venceslau entrevistou João Amoêdo no Estado de S. Paulo.
(…)
O Novo só elegeu um prefeito em 2020, em Joinville, e saiu fraturado da eleição na capital paulista. Qual foi o aprendizado?
O Novo é um ator mais importante nas eleições a nível federal. O partido não tem uma capilaridade muito grande pelo pouco tempo de existência. Dito isso, ficamos aquém do esperado. Teve um fator externo. Aquela onda de renovação que esteve muito presente em 2018 acabou sendo frustrada com a eleição do Bolsonaro. Ele se vendeu como um liberal com capacidade de entrega e alguém que representava a nova política, mas não era nada disso. Teve essa frustração e isso levou as pessoas a um certo afastamento da política. O Novo sofreu nesse cenário. Nós de fato representávamos uma ideia de renovação e o afastamento das pessoas enfraqueceu o discurso do Novo. As redes sociais, espaço onde o Novo cresceu, viraram um ambiente muito tóxico.
Onde o partido errou?
Houve um erro estratégico, que foi apostar, em algumas campanhas do Novo, que o Bolsonaro teria relevância e que não se opor a ele seria positivo. Isso tirou a unidade do partido porque não havia consenso sobre o governo Bolsonaro. O presidente não conseguiu transferir votos. A falta de um posicionamento de oposição tirou o protagonismo do Novo. É importante que o partido faça uma revisão disso para 2022.
O Novo então deve ir para a oposição?
Na minha avaliação, sim. Temos dois anos de governo já percorridos. Pelo fato de sermos independentes, temos mais credibilidade para o posicionamento do partido. O governo vai muito mal. Não dá para não ser oposição.
Há uma divisão na bancada federal sobre essa posição?
O Novo nasceu com o pressuposto de ser uma instituição. Os mandatários são importantes, mas não são eles que definem o posicionamento do partido. Quem define são os filiados e diretórios. A ideia é evitar que os políticos e mandatários definam a agenda do partido. O que falta é um posicionamento mais firme do partido em si. Com isso, os mandatários acabam tendo mais relevância no posicionamento em relação ao governo. Dentro das bancadas tem gente mais favorável e contra Bolsonaro. Isso não contribui com o fortalecimento da nossa marca porque mostra falta de unidade.
O processo seletivo do Novo foi colocado em xeque com a escolha de Filipe Sabará como candidato em São Paulo?
Ali houve um erro, obviamente. Em qualquer processo seletivo se cometem alguns erros. O importante é que esses erros sejam poucos no geral. Ainda acredito que o processo seletivo é o mecanismo mais eficaz. O Sabará teve erros na questão do currículo. Faltou averiguação. Mas o partido precisa fazer uma discussão sobre a qualificação que vamos exigir para os que vamos lançar, especialmente no Executivo de grandes cidades e governos. Precisamos melhorar o processo. Tenho certa preocupação para 2022. Esse ambiente mais tóxico das redes sociais e a polarização diminuíram a predisposição das pessoas para ir para a área pública.
Durante a campanha, Sabará, que acabou expulso do partido, acusou o sr. de ser um “cacique” que manda no partido mesmo fora da direção. Como recebeu essas críticas?
Isso não faz o menor sentido. Eu renunciei à presidência do partido três anos e meio antes de terminar o mandato para o qual fui eleito por unanimidade. Se eu quisesse mandar no partido, não teria deixado o cargo. Se de fato eu mandasse no Novo, algumas coisas seriam diferentes. Tenho cobrado do partido uma posição contrária ao governo. Essa é a maior prova que eu não mando no partido. O que aconteceu em relação ao Sabará, e isso está comprovado, é que ele teve problemas com o currículo. Quando as pessoas saem, preferem atacar do que reconhecer os próprios erros.
(…)