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Desde a idade média: a história dos sapatos femininos de bico fino

Mulher com sapato de bico fino. Foto: ilustração

A predominância dos sapatos sociais femininos de bico fino, frequentemente associados ao desconforto, tem raízes profundas na história da moda. A explicação para essa escolha de design, que prioriza a estética sobre a anatomia do pé, remonta à Europa medieval e a um acessório originalmente masculino. Naquele período, sapatos de couro pontudos, conhecidos como poulaines, eram um símbolo de status entre os homens ricos.

Esses sapatos medievais podiam ter até 30 centímetros de comprimento e eram altamente decorados. Seu design alongado e impraticável dificultava a locomoção, comunicando que o usuário não precisava realizar trabalho físico. A moda se tornou tão popular que, em 1463, o Rei Eduardo IV da Inglaterra aprovou uma lei para controlar seu uso, restringindo o comprimento da ponta a apenas 5 centímetros para qualquer pessoa abaixo de um lorde na hierarquia social.

Essa regulação teve um impacto duradouro. Socialmente, ela garantiu que o sapato pontudo se tornasse um marcador visual definitivo da nobreza, ajudando a manter a ordem social. A justificativa também tinha um viés religioso, com líderes argumentando que as pontas longas impediam as pessoas de se ajoelharem de maneira respeitosa para orar. No entanto, o uso desses calçados tinha um custo físico, incluindo o desenvolvimento de joanetes.

A pressão para “se encaixar” literalmente nesses sapatos, apesar do desconforto, solidificou sua associação com prestígio e elegância. Esse legado histórico é uma das chaves para entender por que os designers ainda hoje recorrem ao bico fino, perpetuando uma silhueta que transcende a funcionalidade em nome de um símbolo de status secular.