Desembargador afirma que magistrados não podem afrontar memória de Marielle

Texto de Maria Carolina Trevisan no UOL.

A tentativa de matar a memória do seu filho assassinado é cruel e desumana. Foi isso o que a desembargadora Marília Castro Neves (e deputados) tentou fazer com a história de Marielle Franco, a vereadora negra, da favela da Maré, executada com quatro tiros precisos na cabeça no centro do Rio de Janeiro. Os que defendem a magistrada se encaixam nesse mesmo grupo.

A tentativa de criminalizar pessoas negras e pobres que são assassinadas é comum no Brasil: ligar a morte ao tráfico de drogas é a saída mais fácil para a impunidade. Sabem disso as Mães de Acari, as Mães de Maio, as Mães do Cabula, as Mães Mogianas, as Mães de Osasco e de Barueri, entre tantas mulheres que buscam preservar a honra de seus filhos.

No país em que as taxas de homicídio são epidêmicas e onde as vítimas (71% das quase 60 mil) são jovens negros e pobres, parece que essas vidas são “matáveis”, como aponta o Mapa da Violência. Mães, quase todas negras, quase todas moradoras das favelas, passam a vida inteira tentando dar dignidade à memória de seus filhos.

O caso da Marielle expõe mais uma faceta da sociedade brasileira: matar defensores de direitos humanos tornou-se algo aceito e naturalizado. O Brasil é o quarto no ranking mundial de assassinatos de defensores. E seguimos em curva ascendente.

Para entender a gravidade das declarações que tentam criminalizar Marielle, a coluna entrevistou o presidente da Academia Paulista de Direito, Alfredo Attié, desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo e doutor em filosofia. Para ele, magistrados não podem se posicionar contra os direitos humanos, nem na esfera profissional, nem no campo pessoal. Crítico à intervenção federal no Rio, ele defende que a investigação do assassinato de Marielle seja federalizada para garantir sua credibilidade.

(…)

Esse tipo de atitude fragiliza inclusive a defesa dos direitos humanos?
Totalmente. O que nós mais necessitamos em países como o Brasil, aqui na América Latina e no Caribe, é a defesa dos direitos humanos. A segurança pública significa obedecer os direitos humanos. Não o contrário. Essas pessoas que estão falando contra os direitos humanos na verdade estão falando contra si mesmas.

(…)

presidente da Academia Paulista de Direito, Alfredo Attié, desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo e doutor em filosofia. Foto: Reprodução/R7

Pedro Zambarda de Araujo

Escritor, jornalista e blogueiro. Autor dos projetos Drops de Jogos e Geração Gamer, que cobrem jogos digitais feitos no Brasil e globalmente. Teve passagem pelo site da revista Exame e pelo site TechTudo. E-mail: pedrozambarda@gmail.com

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