Desigualdade ‘desestabiliza a economia de mercado’
Da folha:
O Fórum Econômico Mundial de Davos, que reúne a nata das grandes corporações multinacionais e se apresenta como evento que considera os destinos do planeta, não passa de uma grande operação de relações públicas. O objeto é transmitir uma mensagem de ética corporativa, que não se sustenta na realidade e é coberta de cinismo.
Essa, pelo menos, é a tese do jornalista britânico Andy Robinson, 54, que há oito anos acompanha as idas e vindas na pequena cidade da suíça.
“Um fenômeno muito palpável em Davos é um discurso duplo. Defendem a responsabilidade social, mas os homens de Davos e suas empresas não pagam impostos. A outra face do capitalismo filantrópico -filantrocapitalismo-é a evasão fiscal”, diz Robinson em entrevista à Folha em São Paulo, onde esteve nesta semana para divulgar o lançamento de seu livro “Um Repórter na Montanha Mágica” em que tenta desmascarar a face benévola das corporações.
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“Há soluções, que são a redistribuição de renda por meio de um sistema progressivo de impostos, um estado de bem-estar para manter um mínimo para os aposentados ou com necessidades especiais, sindicatos para manter salários dignos etc. Tudo isso vem desaparecendo nos últimos 30 anos, até mesmo nos países europeus que tinham uma vertente socialdemocrata. Estamos todos seguindo o caminho neoliberal, que é muito perigoso, não só do ponto de vista da sociedade como também do ponto de vista da própria economia de mercado.
A desigualdade desestabiliza a economia de mercado, que é exatamente o que eles, os de Davos, dizem defender. É uma espécie de instinto suicida na lógica de acumulação capitalista.”
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