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Desonesto e sem tucano para chamar de seu, Estadão repete a balela de que bolsonarismo e petismo são “facções” iguais

Do editorial do Estado de S.Paulo.

É sintomático que bolsonaristas e petistas, quase ao mesmo tempo, estejam conclamando o “povo” a sair às ruas. Desde a campanha eleitoral de 2018, essas facções lutam para sequestrar o debate político do País e mantê-lo refém do radicalismo e do tumulto, de onde esperam extrair dividendos eleitoreiros. A nenhum deles interessa a estabilidade, e sim a crise permanente: aos petistas, porque um eventual colapso da economia causado pela inépcia política do governo pode despertar o sebastianismo lulopetista; aos bolsonaristas, porque os entraves no Congresso, que tendem a crescer graças ao comportamento errático do Executivo, serão interpretados como sabotagem de políticos que estariam interessados em impedir o presidente Jair Bolsonaro de governar.

A única maneira de neutralizar esse processo é dobrar a aposta na democracia – não aquela que sai fácil da boca dos demagogos, e sim aquela que se sustenta no convívio legítimo de diferentes visões políticas, na alternância de poder e no respeito às instituições.

(…)

Assim, mais do que nunca, é preciso que haja entendimento em vez de confronto, e isso demanda um sofisticado trabalho de costura política que até agora o governo não fez – seja por incapacidade, seja porque alguns ideólogos aloprados acham que o presidente Bolsonaro pode prescindir da política para governar. Resta torcer – a palavra é esta – para que o Congresso tenha noção de seu papel nessa tormentosa travessia e não se deixe guiar pelos arreganhos autoritários de quem não tem, e nunca teve, afinidade com a democracia.