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Destituição de presidente agrava turbulência na Ucrânia

A destituição, pelo Parlamento, do presidente Viktor Yanukovych aumentou, neste sábado, a turbulência sociopolítica na Ucrânia, após uma semana de sangrentos protestos na capital Kiev.

Yanukovych recusou-se a abandonar o governo e afirmou que a medida do Parlamento – que prevê eleições em maio – é um “golpe de Estado”. Na prática, porém, a administração presidencial e a própria Kiev já estão fora de seu controle.

Ao mesmo tempo, a líder opositora e ex-premiê Yulia Tymoshenko foi libertada (após ter sido condenada, em 2011, a sete anos de prisão, por abuso de poder) e discursou a uma multidão na Praça da Independência, em Kiev, pedindo a continuação dos protestos.

Os desdobramentos deste sábado se seguem a três meses de protestos antigoverno.

A crise coloca em xeque o futuro dos 45 milhões de habitantes da Ucrânia, que ficam no meio de uma disputa de poder estratégica entre Rússia e o Ocidente.

Os protestos começaram quando Yanukovych rejeitou, em novembro, um acordo com a União Europeia, preferindo uma aproximação comercial com a Rússia.
Milhares de pessoas – favoráveis à integração com a Europa – deram início a manifestações pacíficas e à ocupação da Praça da Independência.

Desde então, houve repressão policial aos protestos, a aprovação de leis restringindo as manifestações e a prisão de ativistas – fazendo com que as demonstrações antigoverno se intensificassem.

Muitas pessoas começaram a protestar menos por causa da integração à Europa e mais por temer que Yanukovych estivesse tentando servir aos seus próprios interesses e aos de Moscou.

O derramamento de sangue de 20 de fevereiro foi o mais grave até o momento. Acredita-se que 77 pessoas tenham sido mortas e 600 feridas em 48 horas.
Vídeos mostram franco-atiradores disparando contra manifestantes. Os dois lados se culpam mutuamente, mas ainda não está claro quem atirou a primeira pedra ou disparou o primeiro tiro.

Governo e oposição fizeram, então, um acordo, que previa anistia a manifestantes presos e a desocupação, por parte dos opositores, de prédios estatais.

A oposição também pedia que o Parlamento discutisse mudanças na Constituição para reduzir os poderes presidenciais. Como isso não foi aceito, opositores promoveram manifestações diante do Legislativo.

A crise na Ucrânia faz parte de um cenário maior. O presidente russo, Vladimir Putin, quer fazer de seu país uma potência global, que rivalize com EUA, China e UE. Para isso, ele está criando uniões aduaneiras com outros países e vê a Ucrânia como parte crucial disso – inclusive pelos profundos laços históricos e culturais entre ambos.

Já a UE defende que a aproximação com a Europa e eventual entrada no bloco europeu trariam bilhões de euros à Ucrânia, modernizando sua economia e dando-lhe acesso ao mercado comum europeu.

A Rússia claramente tem uma forte influência sobre Yanukovych, o qual foi apoiado por Moscou durante a Revolução Laranja de 2004 – quando sua eleição foi considerada fraudulenta.

A Rússia suspendeu empréstimos quando o governo ucraniano renunciou e restringiu o comércio bilateral quando a Ucrânia flertou com o Ocidente. A UE chamou isso de pressão econômica “inaceitável”.

Moscou acusa a UE de tentar fazer o mesmo ao oferecer acordos de livre comércio a Kiev.

Saiba amais: bbc