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Dinheiro da Lava Jato: Reinaldo Azevedo mostra como Globo virou assessoria de imprensa de Dallagnol

Jornal Nacional em matéria sobre a Lava Jato (Reprodução)

Da coluna de Reinaldo Azevedo no UOL:

A Lava Jato é tão boazinha, tão boazinha, mas tão boazinha que resolveu oferecer até R$ 508 milhões ao governo federal para o combate ao coronavírus. Assim as coisas são noticiadas. Se você está disposto a fazer assessoria de imprensa para a força-tarefa, informa isso com ar de espanto e ainda acrescenta: “Até agora, o Planalto não deu resposta nenhuma”. Se você é jornalista de verdade, pergunta: “Mas quem disse que a Lava Jato tem autonomia para isso?”.

Se você não tem vergonha nenhuma na cara e se desprendeu completamente de qualquer senso de objetividade, tenta convencer os outros de que se trata de uma plêiade de varões de Plutarco que só quer ajudar o próximo. Se você tem alguma preocupação coma ordem legal, indaga: mas cadê o ato normativo, e em que instância foi estabelecido, que permite à Lava Jato doar dinheiro para o que quer que seja? Antes que eu prossiga, pergunte-se aí, leitor: se a Lava Jato pode doar R$ 508 milhões para o combate ao coronavírus, isso significa que ela é livre para fazer com os recursos o que lhe der na telha, desde que a finalidade seja considerada elevada? Poderíamos fazer aqui uma lista infinita de outras nobres destinações.(…)

Esperem aí: desde quando uma vara federal, que tem dinheiro depositado sob a sua custódia, pode dispor dele a seu bel-prazer, independentemente de um ato legal que normatize o uso?  A propósito, é preciso atentar para um absurdo certamente sem precedentes. Informa o lead da reportagem do Jornal Nacional: “A força tarefa da Lava Jato em Curitiba ofereceu R$ 500 milhões ao governo federal para reforçar o caixa no combate à pandemia. Mas, até agora, não teve resposta.” No G1, lemos: “A força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba (PR) ofereceu R$ 508 milhões ao governo federal para reforçar o caixa no combate à pandemia do novo coronavírus. Mas ainda não teve resposta.”

Se os doutores estão em busca de assessoria de imprensa, não será obviamente neste blog que encontrarão guarida. A Força Tarefa de Curitiba é aquela mesma que queria usar R$ 2,5 bilhões de multa paga pela Petrobras a seu gosto: os bravos pretendiam destinar metade à criação de uma fundação de combate à corrupção — com sede, claro!, em Curitiba —, e a outra ficaria reservada a eventual ressarcimento de acionistas minoritários. Em qualquer caso, a força-tarefa de Curitiba decidiriam o destino do dinheiro. A pedido da própria PGR, o Supremo suspendeu a farra.

(…)