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Doria tenta esconder moradores de rua com tela embaixo de viaduto

Do R7:

 

A gestão João Doria (PSDB) instalou telas em volta do Viaduto Doutor Plínio de Queirós, na Avenida 9 de Julho, no centro da capital. Elas ocultam moradores de rua que estão no local desde segunda-feira, quando a Prefeitura executou a primeira ação do programa Cidade Linda, de mutirões de zeladoria.

Os moradores de rua estão abrigados em uma quadra embaixo do viaduto, que agora foi “envelopada”. A gestão Doria afirma que a medida é para proteção deles.

Com as telas, é possível ver apenas vultos das pessoas e suas barracas. Funcionários a serviço da Prefeitura Regional da Sé disseram que as telas serviriam para impedir que as pessoas da rua pudessem ver o que se passava no local.

“Mas isso aqui vai durar dois dias. Logo eles [moradores de rua] tiram”, disse um dos empregados.

Há cerca de 50 moradores de rua abrigados no espaço. Eles disseram não saber o motivo da instalação das telas e reclamam da concentração de tanta gente naquele lugar.

“Eu já estava aqui antes de vir todo mundo para cá. Agora, já começou a ter briga, sumir coisas. Não vou ficar mais aqui”, contou, enquanto carregava sacos e mochilas, a moradora de rua Simone Santos, de 36 anos.

Já os moradores dos prédios do entorno do abrigo improvisado também reclamam da situação. “Primeiro que, à noite, muitos deles saem de lá [da quadra] e voltam para onde estavam, na praça. E deixam toda a sujeira de manhã. Outra coisa é o barulho. Ontem à noite, chegou uma mulher com vários cachorros e eles ficaram latindo a noite toda”, conta a aposentada Neyde Andrade, de 59 anos.

Na 9 de Julho, após a operação da Prefeitura, ainda há barracas e carroças de gente que não quis ir para a quadra. Também há novos grafites nas paredes pintadas na segunda-feira.

O padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, esteve na quadra nesta quinta-feira (5) e diz que “a situação é dramática”. “Há mulheres que estão fazendo xixi em latas”, disse.

“Criou-se uma série de expectativas que precisam ser concretizadas com urgência”, afirmou o padre. “Aos moradores de rua, foram ditas informações desencontradas para convencê-los a ir para a quadra, promessas de trabalho, encaminhamento, acolhimento, e eles estão agitados.” O padre continua: “E entre os moradores dos prédios, foi criada a expectativa de que os moradores de rua iriam sair. Há muita tensão”.

Segundo Lancellotti, os moradores de rua se queixam de serem filmados e fotografados pelos moradores dos prédios durante a noite. “Os carros passam xingando eles, fazendo ameaças. Tenho medo de uma tragédia”, disse. Há risco ainda de acidentes, uma vez que os próprios moradores fazem fogo no local para cozinhar.

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