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Economist traz Cristo com máscara de oxigênio e diz que Brasil vive sua “maior crise desde o fim da ditadura”

Capa do relatório da Economist

A nova edição da revista The Economist traz um relatório especial sobre o drama da covid-19 no Brasil e a omissão do governo Bolsonaro no combate à pandemia.

De acordo com a reportagem, a democracia no país hoje está “mais frágil do que em qualquer momento desde o fim da ditadura militar”.

A capa do relatório traz uma imagem do Cristo Redentor usando uma máscara de oxigênio e a manchete “On the brink” (“Na beira”).

Leia alguns trechos do release divulgado nesta quinta-feira (3) pela revista:

Os hospitais estão lotados, as favelas ecoam tiros e um recorde de 14,7% dos trabalhadores estão desempregados. Incrivelmente, a economia do Brasil está menor agora do que era em 2011 – e serão necessários muitos trimestres fortes como o relatado em 1º de junho para reparar sua reputação. O número de mortos no Brasil em covid-19 é um dos piores do mundo. O presidente, Jair Bolsonaro, brinca que as vacinas podem transformar as pessoas em crocodilos.

O declínio do Brasil foi chocantemente rápido. Após a ditadura militar de 1964-85, o país conseguiu uma nova constituição que devolvia o exército aos quartéis, uma nova moeda que acabou com a hiperinflação e os programas sociais que, com um boom de commodities, começaram a diminuir a pobreza e a desigualdade. Uma década atrás, o país estava cheio de dinheiro do petróleo e foi premiado com a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Parecia destinado a florescer.

O Brasil não aproveitou a oportunidade. Como nosso relatório especial desta semana argumenta, governos consecutivos cometeram três erros. Primeiro, eles cederam à visão de curto prazo e adiaram as reformas econômicas liberais. A culpa por isso pertence principalmente ao Partido dos Trabalhadores, de esquerda, no cargo em 2003-16. Supervisionou um crescimento de 4% ao ano, mas não investiu para aumentar a produtividade. Quando os preços das commodities caíram, o Brasil enfrentou uma das piores recessões de sua história. Os governos de Michel Temer e Bolsonaro fizeram algum progresso na reforma, mas pararam muito aquém do que é necessário.

Em segundo lugar, em seus esforços para se proteger das consequências do Lava Jato, uma enorme investigação anticorrupção, os políticos têm resistido às reformas que impediriam a corrupção. Os promotores e juízes por trás do Lava Jato são parcialmente culpados. Depois que alguns demonstraram ter uma agenda política, sua investigação ficou paralisada no Congresso e nos tribunais.

Finalmente, o sistema político do Brasil é uma pedra de moinho. Distritos estaduais e 30 partidos no Congresso tornam as eleições caras. Ainda mais do que em outros países, os políticos tendem a apoiar projetos extravagantes para ganhar votos, em vez de reformas dignas de longo prazo. Uma vez no cargo, eles seguem as regras erradas que os elegeram. Eles desfrutam de privilégios legais que os tornam difíceis de processar e de uma grande quantidade de dinheiro para ajudá-los a manter o poder. Como resultado, os brasileiros os desprezam. Em 2018, apenas 3% disseram confiar “muito” no Congresso. (…)

A democracia brasileira está mais frágil do que em qualquer momento desde o fim da ditadura. Em março, Bolsonaro demitiu o ministro da Defesa, que se recusou a enviar o exército às ruas para forçar a reabertura de empresas. Se ele perder a reeleição em 2022, alguns acham que ele pode não aceitar o resultado. Ele lançou dúvidas sobre o voto eletrônico, aprovou decretos para “armar o público” e se gabou de que “só Deus” o removerá. (…)