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Eleitor de Bolsonaro o leva a sério, mas não leva ao pé da letra tudo o que ele diz, aponta estudo

 

Do Valor:

Reunidos em torno de uma mesa para debater política, eleitores que declaram intenção de votar no deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) para presidente foram submetidos a um teste sugerido pela reportagem do Valor. Os participantes foram provocados a dizer o que fariam se algum dia flagrassem um filho fumando maconha. Nenhum deles fora avisado que, anos atrás, o parlamentar disse que submeteria o próprio filho à tortura numa situação como essa.

O mediador do estudo, conduzido pela empresa de marketing político Ideia Big Data, ofereceu quatro opções aos oito eleitores do experimento: a) deixaria o filho fumando numa boa e apenas explicaria que aquilo poderia fazer mal; b) conversaria com o rapaz e tentaria convencê-lo a parar; c) denunciaria o menino à polícia; ou d) partiria para a tortura.

Quando o mediador leu a terceira opção, alguns já começaram a reagir com estranhamento. “Quem vai entregar um filho pra polícia?”, disse uma mulher. Quando leu a quarta alternativa, caíram na risada. Ninguém cogitou a hipótese de torturar um filho, a resposta de Bolsonaro. No grupo, todos concordaram que o melhor caminho é o da conversa.

Talvez para surpresa ainda maior do próprio Bolsonaro, contumaz defensor de “punição ao vagabundo” quando o assunto é usuário de drogas, seus simpatizantes foram além. Com o debate instalado, a conversa evoluiu para uma concordância geral a favor da legalização da maconha. “Eu acho que é a mesma coisa do cigarro, da bebida”, disse um. “Geraria muito imposto com a venda liberada”, argumentou outro. “Se fosse liberado, seria feito por um farmacêutico e não teria tanta porcaria junto.”

A desconexão entre o que Bolsonaro diz e o que esses seus simpatizantes pensam nesse caso específico resume bem parte das conclusões da pesquisa, promovida para tentar entender o que passa pela cabeça dos adeptos do deputado. São pessoas que enxergam Bolsonaro como uma figura positiva, mas que não conhecem bem suas posições e, mais importante, não se abalam quando constatam que suas próprias opiniões em alguns temas não combinam com as do parlamentar.

Diretor da empresa que conduziu o estudo, Maurício Moura resume assim esse fenômeno: “Tal como aconteceu com Donald Trump nos EUA, os eleitores de Bolsonaro levam ele a sério, mas não levam ao pé da letra tudo o que ele diz”, afirma. “É o contrário do que ocorre com alguns analistas e a imprensa tradicional, que não levam Bolsonaro a sério, mas muitas vezes cometem o erro de tomar o que ele diz ao pé da letra”, completa. “Esse é o perigo”.

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