Elio Gaspari: “A anarquia militar de Bolsonaro tem um pé na delinquência civil”

Em sua coluna na Folha, o jornalista Elio Gaspari comentou o episódio envolvendo Jair Bolsonaro e o general Eduardo Pazuello e afirmou que o presidente quer instalar uma “anarquia militar”.
De acordo com Gaspari, a anarquia militar foi responsável por “empestear a política brasileira do século 20 com pelo menos 14 levantes e seis golpes”.
Leia um trecho abaixo:
O vice-presidente Hamilton Mourão defendeu a necessidade de punição do general Eduardo Pazuello dizendo que é preciso “evitar que a anarquia se instaure dentro das Forças”.
Santas palavras. A partir da Proclamação da República, em 1889, a anarquia militar empesteou a política brasileira do século 20 com pelo menos 14 levantes e seis golpes. Pode-se dizer que alguns foram de direita, outros de esquerda, mas todos tinham uma essência política.
Os tenentes dos anos 1920 queriam uma nova República. Até mesmo os generais que em 1969 empossaram a junta militar do Três Patetas (expressão usada por Ernesto Geisel em conversas privadas e Ulysses Guimarães em declaração pública) agiram em nome de uma suposta defesa da ordem.
A má notícia é que hoje a anarquia militar tem um pé na delinquência civil, para dizer o mínimo. Gregório Fortunato, o “Anjo Negro” e chefe da guarda pessoal de Getúlio Vargas, era paisano. Fabrício Queiroz, o chevalier servant dos Bolsonaro, é um ex-policial militar. Nenhuma crise militar do século passado teve PMs, muito menos conexões com milicianos.
Em 1964, o general Humberto Castello Branco disse que “não sendo milícia, as Forças Armadas não são armas para empreendimentos antidemocráticos, destinam-se a garantir os poderes constitucionais e sua coexistência”. À época, a palavra “milícia” tinha outro significado. (…)