Elio Gaspari: Aloysio Nunes tenta usar OEA contra Venezuela e é derrotado
Da coluna de Elio Gaspari na Folha:
Pena que Joesley Batista não tenha discutido questões de política externa com Michel Temer. Seria uma oportunidade para se conhecer a raiz da desastrosa diplomacia de seu governo. O centro desse desastre está na encrenca que seus dois chanceleres meteram-se com o governo bolivariano da Venezuela.
Depois que os Estados Unidos cansaram-se de brigar com o coronel Hugo Chávez, um secretário de Estado assistente explicou por que Washington decidiu se afastar da briga com os bolivarianos: “Se você entra num chiqueiro para brigar com um porco, é certo que você vai sair perdendo”. Os Estados Unidos querem que os bolivarianos se danem.
Durante o mandarinato dos comissários, o PT e as empreiteiras acasalaram-se com Hugo Chávez. Temer decidiu quebrar essa escrita. Poderia ter feito isso em silêncio, como os americanos, mas seus chanceleres resolveram pular no chiqueiro. Na semana passada o chanceler Aloysio Nunes Ferreira participou de uma ridícula reunião do Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos durante a qual tentou-se aprovar uma declaração condenatória da proposta de constituinte avacalhada do presidente Nicolás Maduro.
A relevância das decisões da Organização dos Estados Americanos é menor que a dos anéis de Saturno. Se isso fosse pouco, a Venezuela já anunciou que abandonará o organismo. Temer e o chanceler Nunes Ferreira viram alguma utilidade numa votação que condenasse a constituinte de Maduro e resolveram investir numa irrelevância. O conselho da OEA reuniu-se e os sábios descobriram que não tinham os votos necessários para aprovar a condenação. Foram batidos pelos países da Comunidade Caribenha e da Aliança Bolivariana. Resolveram esperar pela assembleia da Organização.
O chanceler Nunes Ferreira fez um emocionado discurso, denunciou a violência da ditadura bolivariana e disse que “lembro dos companheiros que morreram nos cárceres, que morreram no exílio sem poder voltar à sua terra”. Bonitas palavras para quem foi o guerrilheiro “Mateus” da ALN, obrigado a viver no exílio, na França. Para um chanceler, coisa de amador.
A OEA é uma irrelevância, brigar com o bolivarianos no seu Conselho Permanente é uma inutilidade e jogar o governo brasileiro num confronto de batucada com a Venezuela é uma irresponsabilidade.
Os dois países têm 2.200 quilômetros de fronteiras, podem divergir, mas não devem perder a calma.
