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Elio Gaspari: O desconforto de Celso de Mello com Jair Bolsonaro é grande e antigo

O ministro do Supremo Celso de Mello – Carlos Moura/SCO/STF

O colunista Elio Gaspari aborda o decano da Suprema Corte em sua coluna na Folha de S.Paulo. “A mensagem do ministro Celso de Mello para a colunista Mônica Bergamo tinha 15 pontos de exclamação. Diante da presepada do prefeito Marcelo Crivella na Bienal do Livro, o decano do Supremo Tribunal Federal fez um curto e indignado protesto contra as ‘trevas que dominam o poder do Estado’ a ‘intolerância’, a ‘repressão ao pensamento’ e a ‘interdição ostensiva ao pluralismo de ideias’. Não deu nome aos bois, mas qualificou a manada: as ‘mentes retrógradas e cultoras do obscurantismo [que] erigem-se, por ilegítima autoproclamação, à inaceitável condição de sumos sacerdotes da ética e padrões morais e culturais que pretendem impor, com o apoio de seus acólitos, aos cidadãos da República !!!!'”.

O jornalista desenvolve: “Celso de Mello não é só o decano do Supremo Tribunal Federal, pois esse título mostra apenas que é o ministro que está lá há mais tempo, desde 1989. Ele é uma espécie de fiel da balança nas divergências e idiossincrasias de seus pares. Ele havia sinalizado seu desconforto em agosto passado, quando Jair Bolsonaro republicou uma Medida Provisória que havia sido rejeitada pelo Congresso: ‘Ninguém, absolutamente ninguém, está acima da autoridade suprema da Constituição da República'”.

E completa: “Celso de Mello mostrou que vai à luta contra ‘as trevas que dominam o poder do Estado’. Nessa briga Marcelo Crivella é um cisco no olho. O desconforto do ministro com as plataformas móveis de Jair Bolsonaro é grande e antigo. Antes mesmo da eleição ele cogitava antecipar sua aposentadoria para não entregar sua vaga depois de uma eventual vitória do capitão. Mudou de ideia e pode ter se arrependido, pois em nove meses viu seus temores confirmados. No início do mandato de Bolsonaro o ministro foi colocado na situação de esquentador de cadeira para Sergio Moro. Do Moro de janeiro resta apenas uma pálida sombra, disciplinado pela calistenia do Planalto, onde ensina-se que lá não se admite a figura de ministro com agenda própria. Quem samba fica, quem não samba pode ir embora. E Moro decidiu ficar”.