Elio Gaspari sobre o ministro Paulo Guedes de Bolsonaro: terá “poderes prometidos de Delfim Netto”
A Coluna de Elio Gaspari na Folha de S.Paulo abordou o futuro superministro da Economia de Bolsonaro. “Falando a uma plateia de empresários na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes fez o principal pronunciamento político do novo governo: ‘O Brasil um país rico, virou um paraíso de burocratas e piratas privados’. Na mesma ocasião, avisou: ‘A CUT perde e aqui fica tudo igual? Tem que meter a faca no Sistema S também’. Falou em corda numa casa de enforcados, pois todas as federações das indústrias são alimentadas pelo ervanário que o Sistema S arrecada mordendo as folhas de pagamento das empresas. Em 2017 foram R$ 16,5 bilhões e, na conta de quem entende, pode-se estimar que o desperdício chegue a 30% com mordomias, obras suntuosas, contratos de consultorias y otras cositas más”.
O jornalista desenvolve seu raciocínio com ceticismo: “Guedes avisou que, com uma boa conversa, esse seria o tamanho do corte. Sem conversa, prometeu uma facada de 50%. Na plateia, riram e aplaudiram. Por que que riram, não se pode saber. Pode ter sido por boa educação, sabedoria, ou ainda porque diante de um ministro que assumirá com plenos poderes, rir é o melhor remédio. Jair Bolsonaro administrará um país cujo PIB per capita cresceu apenas 1,1% nos últimos 20 anos e Paulo Guedes promete revolucionar sua economia. Pode-se estimar que ele assumirá o ‘Posto Ipiranga’ com poderes prometidos que só o professor Antonio Delfim Netto teve. Sem o cajado do Ato Institucional nº 5, a caneta de Guedes terá menos tinta que a de Delfim. Mesmo assim, o ex-ministro é um bom mestre. Primeiro, vale visitar sua opinião sobre o empresariado nacional. ‘Você tem dois grupos de empresários. O primeiro vem ao teu gabinete e pede redução dos impostos, perdão das dívidas e reserva de mercado. Você manda eles lamberem sabão (versão edulcorada), batem os calcanhares, dão meia volta e vão trabalhar. O segundo bate os calcanhares, vai para a antessala e pede uma nova audiência. No dia de hoje as chances de êxito deste grupo podem ser estimadas em 60%’. Uma parte do pessoal que riu quando Paulo Guedes prometeu cortar 30% do ervanário do Sistema S está no segundo grupo descrito por Delfim. Eles já viram muitos ministros anunciando reformas liberais ou mudanças na caixa do Sistema S e sabem que isso ficou na parolagem. O último foi Joaquim Levy”.
Elio então finaliza com uma pergunta: “a partir do dia 2, Paulo Guedes terá que lidar com as manhas da turma que dá meia volta e pede uma nova audiência, a ele ou a algum parlamentar que deverá votar as reformas propostas por Bolsonaro. O projeto da dupla ainda é uma salada de frutas e parte de suas propostas precisará do Congresso. Se eles aprovarem 75% do que pretendem, ainda assim farão uma revolução no capitalismo brasileiro. Se forem travados, terão que se contentar com uma margem em torno de 25%. Bolsonaro fez uma campanha vitoriosa atacando sufixos como o bolivarianismo, o ativismo e, acima de tudo, o petismo. Daqui a poucas semanas terá que lidar com os verdadeiros interesses que ora produzem progresso, ora preservam o atraso. Guedes foi bonzinho quando disse que o Brasil ‘virou um paraíso de burocratas e piratas privados’. Virou?”.
