Em 1995, dono da Globo explicou demissão do diretor de jornalismo Alberico de Souza Cruz, padrinho do filho de Mirian Dutra e FHC
Em entrevista ao DCM, Mirian Dutra contou sobre sua relação com Alberico de Souza Cruz, então diretor de jornalismo da emissora:
Fernando Henrique já era ministro da Fazenda do presidente Itamar Franco e apontado como um nome forte para a sucessão no ano seguinte. Mirian chama sua saída do Brasil de um autoexílio, e diz que o diretor de jornalismo da Globo à época, Alberico de Souza Cruz, padrinho do seu filho Tomás, o ajudou muito nessa saída.
“Eu gosto muito do Alberico, e ele dizia que me ajudou porque me respeitava profissionalmente. Éramos amigos, conhecíamos segredos um do outro, mas eu fiquei surpresa quando, mais tarde, no governo de Fernando Henrique, ele ganhou a concessão de uma TV em Minas. Será que foi retribuição pelo bem que fez ao Fernando Henrique por me ajudar a sair do Brasil?”
(…)
Mirian diz que voltou para o Brasil e se reuniu com Evandro Carlos de Andrade, sucessor de Alberico na direção de jornalismo, e comunicou que ou voltaria para o Brasil, ou pediria demissão. “O Evandro disse, na frente do Schroeder e do Erlanger (Luís Erlanger, que dividia com Schroeder as funções de número 2 no jornalismo): “Ninguém mexe com essa mulher. Ela mostrou que tem caráter”, conta.
Em julho de 1995, Roberto Irineu Marinho, dono da Globo, explicou as “razões” da demissão de Alberico:
Folha – Por que Alberico de Sousa Cruz foi demitido?
Roberto Irineu Marinho – O trabalho executado por Evandro Carlos de Andrade em “O Globo” nos deu certeza de que, na televisão, ele será capaz de levar a cabo, com sucesso, os nossos projetos relativos ao jornalismo.
Não tínhamos a mesma garantia quanto a Alberico de Sousa Cruz, porque se percebia a dificuldade de ele se ajustar aos propósitos do nosso planejamento estratégico. Ele nunca se entusiasmou com isso. E, nos últimos tempos, a qualidade geral do jornalismo não vinha nos satisfazendo.
Folha – Nos corredores da Globo, comenta-se que Sousa Cruz foi demitido por fazer uso político de seu cargo. O que o sr. diz sobre isso?
Marinho – Entendo que todo diretor de central da Globo deve voltar-se obsessivamente para a própria empresa, mas mantendo o relacionamento externo necessário ao cumprimento de sua missão. Não reconheço a menor procedência em qualquer acusação de uso político do cargo por Alberico.
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Folha – Evandro Carlos de Andrade já declarou que, entre as metas do novo jornalismo da Rede Globo, estão “a desvinculação de partidos e ideologias, a independência face a todo tipo de poder e o espaço equânime para todos os lados confrontantes de qualquer questão”. Essas metas não vinham sendo alcançadas anteriormente?
Marinho – Essas sempre foram nossas metas. Conseguimos realizá-las, às vezes com mais, às vezes com menos sucesso. Não me ocorrem exemplos da situação que desejamos mudar, mas eu tenho certeza que a mudança logo será percebida por todos.
Folha – No mês passado, uma minissérie jornalística da Globo (“Contagem Regressiva”) tratou o regime militar que se iniciou em 1964 de maneira surpreendentemente crítica. Usou um tom que, até então, os programas da emissora não empregavam. A Globo está aproveitando a comemoração dos seus 30 anos para promover um “revisionismo histórico”?
Marinho – A Globo não está realizando revisionismo histórico algum e se sente plenamente confortável e orgulhosa em face do seu passado.
Quanto à minissérie “Contagem Regressiva”, ela nos desagradou. Ao se limitar a condenar o regime autoritário, omitiu as grandes conquistas daquele período.
O que queríamos era que, a par da condenação aos males do regime, a começar pelo da opressão, pela perda da liberdade, se reconhecessem também os grandes feitos da época, e isso foi silenciado, com prejuízo para a isenção que exigimos em todo trabalho jornalístico. Eu reclamei disso em telefonema ao Alberico.