Em editorial picareta, Folha detona Lula ao ressaltar bonança socio-econômica de 2023

A Folha de S.Paulo publicou um editorial neste sábado (30) sobre a situação socio-econômica do Brasil e, para variar, não poupou críticas ao governo Lula.
No texto, que exalta o crescimento do Produto Interno Bruto, o jornal alega que o petista tem pouca participação no resultado positivo do país.
“Não são resultados espetaculares, mas vê-se um ambiente bem menos anuviado que o do início do ano, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) semeava insegurança —e juros mais elevados— com ataques ao equilíbrio orçamentário, à autonomia do Banco Central e às metas de inflação”, disse parte do texto.
A publicação também atribuiu a bonança do país por conta do agro e desconsidera as ações de governo que foram pensadas para o setor, como o aumento de crédito rural.
Nos 100 dias de governo, a gestão liberou R$ 55,4 bilhões entre janeiro e março de 2023, o que representa 10% a mais do que foi aplicado no mesmo período do ano passado.
“De todo modo, parcela expressiva das boas surpresas do ano esteve desvinculada dos impactos diretos da política econômica doméstica. Exemplo mais evidente é o da safra recorde de grãos, que provocou um salto de 12,5% no PIB agropecuário no primeiro trimestre. Esse impulso se espalhou pelas ramificações industriais e de serviços do competitivo agronegócio brasileiro, que responde por cerca de 25% da renda do país e independe de proteção estatal”, comentou a Folha.
Publicado nas redes sociais, o texto também reverberou entre apoiadores do presidente. “Justificar o sucesso do governo Lula pela “contenção do PT” ? Não seria o inverso…o “trabalho do PT”? É muita cara de pau da Folha. Cancelei minha assinatura na época do golpe e não me arrependo até hoje. Vocês não aprendem…”, disse um usuário.
O gado prefere cortar os pulsos a ter que adimitir que o Haddad é mais competente que o Guedes, mas uma hora ele vai ter que cair na realidade.
— Dante Denner (@dantedenner) December 30, 2023
Alguém lembra à Fôia que o agro, sem o crédito subsidiado pelo estado não seria nada.
"Esse impulso se espalhou pelas ramificações industriais e de serviços do competitivo agronegócio brasileiro, que responde por cerca de 25% da renda do país e independe de proteção estatal."
— Belchior 2.0 (movido a álcool) (@DandyGuiga) December 30, 2023
Justificar o sucesso do governo Lula pela "contenção do PT" ? Não seria o inverso…o "trabalho do PT"?
Kkkkkkkkkk é muita cara de pau da Folha.
Cancelei minha assinatura na época do golpe e não me arrependo até hoje. Vocês não aprendem…
— JeanPapoReto (@jogayejoga) December 30, 2023
Confira o editorial da íntegra:
Encerra-se este 2023 com uma sensação de alívio quanto à evolução do bem-estar material e social da população brasileira —a não se confundir com a crença de que estão superados os riscos que pairam sobre a economia do país.
Medida da renda nacional, o Produto Interno Bruto repetiu o crescimento na casa de 3%, com ajuda relevante do agronegócio, acima do esperado e sustentando a criação de empregos. A inflação se manteve em queda depois do repique global que se seguiu à pandemia. A aprovação da reforma tributária criou uma oportunidade preciosa.
Exportações vigorosas garantiram o ingresso de divisas, e as cotações internas do dólar recuaram, contribuindo para o controle dos preços. Juros em tendência de queda aqui e lá fora animaram as Bolsas nos últimos meses.
Não são resultados espetaculares, mas vê-se um ambiente bem menos anuviado que o do início do ano, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) semeava insegurança —e juros mais elevados— com ataques ao equilíbrio orçamentário, à autonomia do Banco Central e às metas de inflação.
O governo começou com a bandeira da gastança, promovida antes mesmo da posse por meio de uma emenda constitucional que elevou despesas permanentes a um patamar muito acima do necessário para acomodar a correta ampliação do Bolsa Família.
Felizmente, entretanto, o pragmatismo prevaleceu sobre outras das piores ideias do presidente da República e de seu partido.
De todo modo, parcela expressiva das boas surpresas do ano esteve desvinculada dos impactos diretos da política econômica doméstica. Exemplo mais evidente é o da safra recorde de grãos, que provocou um salto de 12,5% no PIB agropecuário no primeiro trimestre.
Esse impulso se espalhou pelas ramificações industriais e de serviços do competitivo agronegócio brasileiro, que responde por cerca de 25% da renda do país e independe de proteção estatal.
No exterior, dissiparam-se temores de onda recessiva resultante das medidas contra a alta inflacionária global. Preços de matérias-primas caíram, mas o volume de compras manteve o bom desempenho das exportações brasileiras. O Fed, banco central americano, anunciou recentemente a perspectiva de queda mais rápida de suas taxas.
Por aqui, o avanço institucional do BC autônomo evitou o descontrole de expectativas e facilitou o controle da inflação em meio às tensões da troca de governo. A Selic, ainda muito elevada, iniciou trajetória de queda em agosto.
Da parte do governo, a principal inovação foi o advento de uma nova regra fiscal em substituição ao já desfigurado teto de gastos, o que ao menos estabeleceu limites formais para a expansão das despesas.
A situação orçamentária, no entanto, está longe de confortável —e aqui começam as ameaças à saúde econômica e social do país.
O ano termina com grave deterioração das contas do Tesouro, e é evidente para todos que o novo regramento é insuficiente para sustar a escalada da dívida pública. Foi esse o sentido de um alerta recente da OCDE, que irritou Lula.
Espera-se desaceleração da economia em 2024, já notada no PIB do terceiro trimestre. Se confirmada a expectativa, tendem a acirrar-se, em ano de eleições municipais, as pressões do PT e da ala política do governo contra a já desacreditada meta de déficit zero.
O ministro Fernando Haddad, da Fazenda, segue como defensor solitário da racionalidade no partido. Ainda que tenha colhido vitórias importantes contra subsídios tributários iníquos, a insistência em basear todo o ajuste na arrecadação, sem revisão aprofundada dos gastos, está fadada a frustrações.
A alta da despesa pública produz não mais que espasmos declinantes na atividade econômica. O crescimento duradouro depende de investimento —que só fez cair no ano— e da produtividade.
O governo atua contra a eficiência empresarial ao recusar privatizações e insistir no aparelhamento das estatais. Ao menos não prosperaram, até aqui, ensaios de aumento do crédito subsidiado, reestatizações e retrocesso nas reformas trabalhista e previdenciária.
Daqui em diante, há que resistir à tentação de ganhos políticos de curto prazo. A regulamentação do sistema tributário exigirá trabalho persistente contra a ação de lobbies por privilégios. O Bolsa Família e a política social devem ser aperfeiçoados por maior eficácia no combate à pobreza. O país tem uma década perdida a deixar para trás.