Em meia hora de discurso, Jair Bolsonaro mente 5 vezes sobre a covid
Do Estadão

No dia seguinte ao surpreender por usar máscara e adotar tom moderado em discurso sobre a pandemia, o presidente Jair Bolsonaro voltou a distorcer dados, negar omissão do governo federal e atacar governadores que tentam conter o avanço da pandemia no País. As declarações foram feitas em videoconferência organizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Na participação, que durou pouco mais de meia hora, em ao menos cinco vezes, o presidente disse informações inverídicas. Veja abaixo:
Dados de mortes por covid-19
O presidente disse que mortes ainda sob suspeita da covid-19 são somadas a dados oficiais para inflar números da pandemia. “Tenho vários atestados de óbito comigo. Várias comorbidades. E lá embaixo está escrito: ‘Suspeita de Covid’. Entra na estatística de morte por covid-19”, disse Bolsonaro, no momento em que criticava determinações de governadores para reduzir a circulação de pessoas.
Além de não apresentar provas, o presidente contradiz dados do próprio Ministério da Saúde. (…)
OMS contra o lockdown
Em seu discurso nesta quinta-feira, 11, o presidente voltou a criticar medidas para evitar a circulação de pessoas para conter a propagação do vírus, como o fechamento do comércio não essencial e “lockdowns”. “O efeito colateral do combate ao vírus está sendo mais danoso que o próprio remédio. Lockdown não é remédio”, declarou. O presidente ainda afirmou que até a “desacreditada” Organização Mundial da Saúde (OMS) rejeita o lockdown. (…)
Corrida pela vacina
Bolsonaro também reagiu a críticas sobre demora para a compra de vacinas. “Abrimos pra comprar com praticamente todos os laboratórios, depois de aprovado pela Anvisa, como sempre disse”, afirmou. “A acusação de negacionista, terra planista, genocida, não cola. Demonstrei aqui que o governo tudo está fazendo, desde o começo. Não podemos eleger um responsável pelo seu insucesso. Todos nós somos responsáveis”, alegou o presidente.
Em 2020, porém, o presidente afirmou que não compraria a Coronavac, desenvolvida na China, por causa da “origem” do medicamento. Também rejeitou propostas da Pfizer e chegou a falar, em tom irônico, que o laboratório não responderia caso alguém se transformasse em jacaré após receber a dose. (…)
Supremo restringiu ação do governo
(…) “Daqui a pouco a gente vai ter meia hora pra sair na rua. E nós continuamos ficando quietos. Vocês podem falar: ‘É um direito deles, de acordo com a decisão do Supremo'”, disse Bolsonaro, em referência ao toque de recolher imposto no Distrito Federal.
Diferentemente do que diz o presidente, a decisão do Supremo assegurou aos Estados e municípios autonomia para tomar medidas que tenham como objetivo tentar conter a propagação da doença, mas não exime a União de realizar ações e de buscar acordos com os gestores locais.
Ação na pandemia
(…) Apenas em março do ano passado, quando os casos do novo coronavírus já havia chegado ao País e a OMS declarou a pandemia, Bolsonaro minimizou a doença. Após dizer se tratar de “histeria” e “fantasia”, convocou rede nacional de TV e rádio para dizer que não passava de uma “gripezinha”, além de dizer que a situação não poderia ser tratada como “se fosse o fim do mundo”.