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Em novembro, Clóvis Rossi dizia que Macri “pôs na roda uma agenda revolucionária”

A Argentina foi ao FMI antes de ir para o buraco. Em vez de pagar para ver se a crise passava, o governo de Mauricio Macri preferiu pedir logo um dinheiro emprestado.

Macri, festejado pelo mercado até ontem, fracassou. Disse que seu país precisa da grana para superar um contexto internacional “cada dia mais complexo”. A inflação nos primeiros três meses do ano foi de 6,7%.

Em novembro, Clóvis Rossi escreveu na Folha uma coluna dizendo que Macri acabava de “pôr na roda uma agenda revolucionária que, se copiada no Brasil para a campanha eleitoral de 2018, pode alçá-la a um patamar enriquecedor”.

Veja que beleza de prognóstico:

Tomara que continue valendo o efeito Orloff, aquela pressuposição dos anos 1980 de que o Brasil de amanhã seria a Argentina de hoje. Se continua valendo, então o presidente argentino Mauricio Macri acaba de pôr na roda uma agenda revolucionária que, se copiada no Brasil para a campanha eleitoral de 2018, pode alçá-la a um patamar enriquecedor.

Macri está oferecendo aos argentinos um conjunto de reformas (trabalhista, tributária, previdenciária, entre outras) com nítido fundo liberal. Como no Brasil, aliás, mas com muito mais profundidade e com um amparo popular de que não goza seu colega Michel Temer. (…)

O liberalismo tem má fama no país, em parte por ter se associado frequentemente aos militares para chegar ao poder, no que é a negação de sua essência: é indecente que liberais se vinculem a governos que violem as liberdades.

Agora, parece haver uma mudança no estado de espírito, o que permite a um liberal como Mauricio Macri apresentar uma agenda que vai além das reformas pontuais já citadas: o ponto de chegada do programa do presidente é uma profunda reforma do Estado, o que é igualmente revolucionário. (…)

Seria formidável se a campanha eleitoral de 2018 debatesse o formato da sacudida. Um ponto é essencial: a obsessão de Macri é reduzir a pobreza, chaga permanente no Brasil e que, na Argentina, só sangrou devido à decadência.

Macri quer ser julgado pela obtenção ou não dessa meta. Não é objetivo habitual na retórica liberal —o que completa o caráter revolucionário da agenda que o argentino acaba de lançar. 

Clóvis Rossi