Apoie o DCM

Em plena pandemia, empresa de Huck dispensa professores sem ajuda financeira

Luciano Huck. Foto: Pedro Zambarda/DCM

De Hyury Potter no Intercept Brasil.

“Lembre-se sempre que para o Alicerce você é, ao mesmo tempo, agente de transformação e objeto e alvo do nosso cuidado”, diz um trecho do contrato de trabalho dos professores do grupo Alicerce, startup de aulas de reforço escolar que tem entre seus principais investidores e garoto-propaganda o apresentador da Globo Luciano Huck.

No dia 20 de março, dezenas de trabalhadores da instituição souberam exatamente o que significava estar aos cuidados da empresa. Todos foram dispensados, por mensagem de WhatsApp, após o fechamento obrigatório das escolas devido a quarentenas por conta do coronavírus impostas nos estados onde a empresa atua: São Paulo, Paraná e Minas Gerais.

Ao contrário de muitas pequenas empresas que não têm como pagar ou ajudar seus funcionários em tempos de pandemia, o Alicerce alardeia um caixa gordo. Além de Huck, o grupo também tem outros investidores ilustres como o economista Armínio Fraga e anunciou um aporte de R$ 20 milhões no final do ano passado para ampliar o número de unidades da empresa para 70 até o final de 2020.

Os mais de 400 professores que trabalham, ou trabalhavam, para as 37 unidades do grupo são microempreendedores individuais, os MEI. Ou seja, na prática, são pequenas empresas com um contrato de serviço com uma grande empresa e por isso não têm os mesmos direitos e benefícios que um trabalhador formal contratado, como seguro-desemprego, férias remuneradas e 13º salário.

Essa terceirização da atividade-fim, uma maneira de empresários reduzirem custos trabalhistas, é tratada no Alicerce como uma “oportunidade para empreender”, como descreveu o próprio CEO da startup, o empresário Paulo Batista, quando o entrevistei. No dia 20 de março, quando alguns professores de uma das unidades da escola no Paraná, reclamaram em um grupo de WhatsApp que estariam sendo demitidos, Batista respondeu:

“Veja. Não existe ‘demissão’ de PJ [pessoa jurídica]. E nenhum de vocês foi afastado do Alicerce. Apenas o contrato de vocês reza que ganham por período efetivamente trabalhado. Com o fechamento dos polos, não tem como vocês trabalharem. E não tem como remunerar todos os líderes de todo o Brasil sem dar aulas”.

(…)