Em reclamação ao TSE contra institutos, Bolsonaro omite pesquisas que lhe davam vantagem

A ofensiva jurídica do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra institutos de pesquisas eleitorais não mencionou as duas empresas responsáveis por levantamentos que mostravam sua liderança nas intenções de voto no primeiro turno.
Os institutos Brasmarket Análise e Investigação de Mercado e o Instituto Equilíbrio Brasil não são citados no pedido de providências feito pela campanha ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e à PGR (Procuradoria-Geral da República). Já empresas como Datafolha e o Ipec, que apontaram para uma possível vitória de Lula (PT) no primeiro turno, são mencionadas.
As pesquisas da Brasmarket e do Instituto Equilíbrio Brasil vinham divergindo das demais desde agosto, colocando Bolsonaro em primeiro lugar nas intenções de voto. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente e um dos críticos de pesquisas eleitorais, chegou a divulgar o levantamento da empresa em setembro.
No dia 15, o senador escreveu que o levantamento “já dá Bolsonaro eleito no 1º turno”, mesmo que a maioria das pesquisas indicassem o oposto. “Como falamos há tempos, os demais institutos já começaram a ajustar a vitória de Bolsonaro. As óbvias exceções serão DataFolha e IPEC, por ordem da Globo/PT e vão bancar a farsa até o fim”, afirmou.
Brasmarket já dá @jairbolsonaro eleito no 1° turno!
Como falamos há tempos, os demais institutos já começaram a ajustar a vitória de Bolsonaro.
As óbvias exceções serão DataFolha e IPEC, por ordem da Globo/PT e vão bancar a farsa até o fim. https://t.co/WAUPZcNF3d— Flavio Bolsonaro (@FlavioBolsonaro) September 15, 2022
Dois dias antes da eleição, dia 30 de setembro, a última pesquisa da Brasmarket apontava liderança de Bolsonaro com 45,4% das intenções de voto; Lula aparecia com 30%. Durante a campanha, Bolsonaro liderou as intenções de voto do instituto, oscilando entre 39% a 45% nos levantamentos feitos entre agosto e setembro. Lula variou entre 30,9 a 33%.
O levantamento do Equilibrio Brasil, divulgado dois dias antes, dava resultado semelhante, mas com um avanço maior de Lula: Bolsonaro com 44% e o petista, 41%
Nas urnas do primeiro turno, Lula teve 48,43% dos votos válidos — uma diferença de 18 pontos percentuais em comparação ao resultado da Brasmarket e 7 pontos percentuais a mais que a pesquisa Equilíbrio Brasil. Já Bolsonaro ficou com 43,20%, dentro da margem de erro dos dois institutos.
As diferenças entre os resultados da Brasmarket com as urnas e com outras pesquisas, porém, não são mencionadas pelo presidente nos pedidos de providência levados ao TSE e à PGR. As ações citam nominalmente as empresas Quaest, Ipec, Datafolha, Ipespe, FSB, PoderData, Atlas, MDA e Paraná Pesquisas. Todas fizeram pesquisas que indicavam a vantagem de Lula nas intenções de voto.
Os documentos foram encaminhados ao corregedor-geral eleitoral, ministro Benedito Gonçalves, e ao procurador-geral da República, Augusto Aras. Bolsonaro cobra que os institutos de pesquisa citados, “dentre outros reputados relevantes para a coleta de informações”, expliquem as divergências relatadas entre o resultado das urnas e as pesquisas feitas durante a campanha.