Apoie o DCM

Emicida: “Ninguém é racista até o negão aparecer com um carro melhor que o seu”

Em entrevista a coluna de Monica Bergamo, na Folha, o rapper Emicida, que acaba de completar dez anos de carreira como um dos principais nomes do gênero no Brasil, fala sobre o começo da carreira, racismo e a política no país. Confira alguns trechos:

Dona Jacira não queria saber de rap. Hoje, aos 54 anos, a ex-empregada doméstica passa seus dias na Laboratório Fantasma, empresa de seus filhos Leandro e Evandro que nasceu da relação deles com o gênero musical. A companhia gerencia a carreira e grava discos de músicos da cena, além de comercializar produtos que elogiam o estilo de vida ligado ao rap.

“Eu não queria nem ouvir falar do rap, mesmo, não. Depois eu fui ver que as letras das músicas do Leandro são muito parecidas com o que eu falava [com meus filhos], as coisas da minha cabeça. Aí passei a gostar”, explica ela.

[Minha mãe trabalhava como] empregada doméstica. Mas ela fez muita coisa, muito bico. Fez coisa de bordado, uns chinelos de artesanato. Trabalhava na feira… Mano, eu lembro da minha mãe me levando até pra cuidar de uma barraca de jogo do bicho. E eu chapava [me divertia], porque tinha um monte de páginas amarelas lá e eu ficava lendo.

Tinha vários telefones tipo de pizzaria, tá ligado? Você ficava imaginando o dia que você ia ter dinheiro pra pedir uma pizza. Eu ficava viajando muito nisso.

………….

Existe uma expectativa tão baixa com relação aos pretos, aos favelados, que as pessoas acreditam que a gente tem uma noção muito rasa a respeito do nosso negócio. Querem ensinar a gente.

Não entra na cabeça das pessoas que a gente sabe o que está fazendo. Que a gente tem um conceito, valores, uma história, que temos um modelo de negócios, uma filosofia, uma meta.

E a gente tem liberdade, que é uma parada que pouquíssimos pretos no Brasil têm. Liberdade de dizer o que a gente quiser, fazer o que a gente quiser, morar onde a gente quiser, comer o que a gente quiser. Sacou?

Isso é uma parada extremamente ofensiva. Muitas pessoas que discursam a favor disso, mas no momento em que veem o preto passar com um carro bacana, aí você vai ver! Mano, ninguém é racista até o negão aparecer com um carro melhor que o seu. Aí você vai ver o nariz torcer.

…………..

Se você for analisar com profundidade, a princesa Isabel era o Michel Temer. Não era o presidente. Era alguém que tava ali por acaso, não porque foi eleito e tinha capacidade para aquilo. Isso é uma situação muito profunda e que o brasileiro nem compreende! Ele agradece a princesa, tá ligado?

………….