Entenda como Odorico Paraguaçu “ajudou” a compor o maior sucesso de Ney Matogrosso

A canção “Homem com H”, eternizada na voz de Ney Matogrosso, ultrapassou todas as barreiras culturais, sociais e artísticas desde seu lançamento. Originalmente composta por Antônio Barros, a música encontrou em Ney o intérprete ideal para dar vida ao seu deboche, humor e crítica. O contraste entre a letra, que exalta a virilidade, e a figura andrógina e performática do cantor provocou uma ruptura definitiva no imaginário musical e comportamental brasileiro dos anos 1980.

A inspiração veio de uma cena da novela O Bem-Amado, quando Odorico Paraguaçu se assusta com um cangaceiro. Dessa cena nasceu o verso “Nunca vi rastro de cobra, nem couro de lobisomem…”. Com uma sanfona moderna e arranjo ousado, a canção foi parar no lado B de um disco, mas rapidamente tomou o país de assalto, tocando em rádios do interior ao asfalto, nas festas, nas escolas, nos lares — e tornou-se o maior sucesso da carreira solo de Ney Matogrosso.

O impacto da música foi tanto que Ney, inicialmente reticente, acabou convencido por Mazola e por Gonzaguinha de que só ele teria o tom certo para dar à música a graça e a ironia necessárias. E deu. A canção virou um divisor de águas: afirmava com voz fina que “sou é homem”, e subvertia todos os clichês de masculinidade. Ney não apenas cantava — ele performava, enfrentava tabus e transformava a canção em um ato político e artístico.

“Homem com H” se tornou marca registrada de Ney Matogrosso e símbolo de uma época de transgressão e afirmação pela arte. Sua potência continua a ecoar, seja em novas interpretações como a de Zeca Baleiro, seja na memória afetiva de milhões de brasileiros. Muito além do forró debochado, a música é um hino da liberdade individual, da diversidade e da coragem de ser quem se é — com ou sem H.