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“Esquema de Furnas pagava 3 milhões por mês”, diz Roberto Jefferson

Do Estadão:

Condenado a sete anos e 14 dias de prisão no processo do mensalão, o ex-deputado Roberto Jefferson obteve perdão da pena no último dia 22 e se prepara para reassumir em 14 de abril, a presidência do PTB, atualmente ocupada por sua filha, a deputada Cristiane Brasil.

(…)

E Furnas?

Uma diretoria nos foi oferecida pelo presidente Lula, para compensar a não transferência dos recursos nas eleições em que PT fechou acordo com PTB. O PTB fechou uma grande aliança com o PT nas capitais, a Marta (Suplicy) foi eleita com apoio do PTB em São Paulo. Eles ofereceram R$ 20 milhões para financiamento do PTB e deram R$ 4 milhões. Foram os R$ 4 milhões que o Marcos Valério levou. Como eles não cumpriram os R$ 16 milhões e no PTB ficamos com uma grave dívida e uma crise interna, o presidente Lula tentou montar para o PTB um caminho de financiamento para suprir esse gasto, a diretoria de Furnas (de Engenharia), onde estava o Dimas Toledo. Mas não se concretizou.

O que aconteceu? Havia um esquema anterior?

Havia. Eu soube disso quando indicamos doutor Francisco Spirandel para ocupar o lugar do Dimas. Recebi contato do Zé Dirceu para que eu fosse conversar com ele na Casa Civil. Ele disse “em vez de trocar o Dimas, por que a gente não faz um acordo, você mantém o Dimas e ele passa a ajudar o PTB?” Eu disse “da minha parte, sem problema”. Dimas foi à minha casa conversar, foi quando conheci o Dimas. Dimas disse “minha diretoria rende de apoio R$ 3 milhões por mês, mas eu tenho comprometidos R$ 1 milhão com o PT de Minas, R$ 1 milhão com o PT Nacional, dou R$ 600 mil a 12 deputados do PSDB, R$ 50 mil a cada um, eles apoiam de vez em quando o governo federal. E R$ 400 mil para a diretoria.

E qual era a origem desse dinheiro?

Os contratos que ele gerenciava lá na Engenharia. Comissão da Engenharia. Então combinamos: a gente mantém o apoio ao PT de Minas, aos 12 deputados que ajudam nas votações mais  importantes do governo do Lula e passa a dar R$ 1 milhão para financiar o PTB Nacional. Eu falei “da minha parte, perfeito”. Estava fechado e marcamos encontro com o presidente Lula para comunicar que não precisava trocar o Dimas, que tinha esse acordo. Eu, Zé Dirceu, Walfrido dos Mares Guia, que era ministro do PTB, e o presidente Lula. Lula perguntou “quando esse cara de vocês, Spirandel, assume?” Eu disse que havia o acordo de convivência do PTB com o PT. (Lula disse) “Quero ouvir de você”. E eu contei o que acabei de dizer para você. Lula disse “não estou de acordo, porque esse Dimas é o cara do Aécio, só faz propaganda para o governo de Minas, do Aécio, se vocês não trocarem eu vou trocar”. Eu disse “então bota o Spirandel”. Quando acabou a reunião, Zé Dirceu me interpela “você quis o boi com chifre e tudo, se você bate o pé, ele mantém o Dimas’. Eu disse “Zé, por que você não interveio?” Desci com Walfrido para a garagem, ele segurou meu braço e disse “você foi para o céu”. Eu disse “acho que eu fui para o inferno, a reação do Zé Dirceu foi muito ruim”. Uma semana depois veio a matéria da Veja (que exibiu gravação de um funcionário dos Correios cobrando propina e dizendo que falava em nome de Jefferson), que se assemelha à verdade, mas não é a verdade. Zé Dirceu montou com a Veja aquela matéria.