“Eu quero te ver livre, guerreiro”, diz Jean Wyllys em carta emotiva a Lula

Da coluna de Jean Wyllys, no Universa:
Difícil iniciar esta carta lhe perguntando se você está bem ou desejando que essas palavras lhe encontrem bem. Difícil porque sei que, por mais forte e resistente que você seja às injustiças e às dores que lhe foram infligidas ao longo desses anos, nada pode estar bem ou bom na situação em que você se encontra.
Sua altivez e dignidade quando em público não mudam o fato de que você é um senhor idoso, com mais de 70 anos, que não oferece qualquer risco à sociedade brasileira, logo, de que sua prisão contraria todos os princípios de justiça e empatia, mesmo que ela estivesse baseada em provas e num processo condizente com um estado democrático de direito, coisa que sabemos que não está.
(…)
Escrevo-lhe esta carta, meu velho, porque amanhã essa sua prisão injusta faz aniversário. Há um ano você é um preso político, retirado fisicamente da cena pública sob acusações vindas de uma operação da Justiça e Ministério Público federais de Curitiba que, hoje estamos sabendo, não tinha apenas o propósito de criminalizar o PT e as esquerdas em favor da extrema direita fundamentalista cristã e miliciana, mas sobretudo o de se apropriar privadamente de recursos públicos (bilhões de reais!), ou seja, o de assaltar os cofres públicos, mas com os requintes de uma organização mafiosa, tudo sob a narrativa mentirosa de “combate à corrupção” – devidamente sustentada e reproduzida por uma imprensa historicamente antipetista – que tanto agrada à parte da classe média estúpida e alienada, porém arrogante, amedrontada, ressentida e invejosa.
(…)
Muitos têm me acompanhado, Lula. Você não está só! E o propósito dessa carta é o de lhe dizer isso. Ainda que todos no Brasil e no mundo o esqueçam – algo impossível, porque você já é história e vive na dignidade de cada pobre, preto, preta, favelado, periférico, gay, lésbica, travesti, evangélico, católico, judeu, umbandista, indígena, camponês, operário e trabalhador informal conquistada durante e por causa de seus governos, mesmo que estes não tenham consciência e até lhe sejam ingratos, insultando-o nas redes sociais – ainda que isso aconteça, eu estarei com você, não importa o preço que eu tenha que pagar por isso. Não tenho medo da impopularidade. E a gratidão e a bondade são algumas das minhas virtudes, entre meus muitos defeitos.
(…) Seu passado vive presente nas experiências contidas nesse coração consciente da beleza das coisas da vida. Seu sorriso franco me anima; seu conselho certo me ensina. Beijo suas mãos e lhe digo, meu querido, meu velho, meu amigo: tudo isso é pouco diante do que sinto”.
Eu quero é te ver livre, guerreiro.
Te amo.
Jean Wyllys