“Eu responsabilizo grupos de direita movidos a ódio”, diz Maria do Rosário sobre fotos vazadas da filha
A deputada Maria do Rosário publicou depoimento na Folha sobre a história de sua filha Maria Laura Pacheco, de 16 anos. que teve fotos vazadas com legendas em que ela era retratada como usuária de drogas e doente terminal.
O caso está sendo investigado pela polícia.
Muitas vezes, eu me pergunto qual foi a razão de a minha filha colocar aquelas imagens nas redes sociais. Mas é o mundo, ela não pode ser criminalizada nem atacada por isso. As pessoas são chamadas a viver tudo nas redes sociais, a contar do momento em que acordaram até quando vão dormir.
Como legisladores, temos de estabelecer regras sobre o uso destas informações. Não se pode culpar o jovem pela manipulação e pelo uso indevido. Mesmo que ela tivesse feito uma bobagem – e não é o caso -, eu jamais ficaria contra ela.
Lógico que ela mereceu uma reprimenda minha por ter postado fotos que não deveria, mas Laura é como qualquer outra adolescente postando foto na internet. Eles [quem vazou as imagens] é que são criminosos.
Depois do episódio, minha filha fechou o Instagram dela. Laura também tem Facebook. É impossível impedir um jovem de estar nas redes sociais hoje em dia.
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Neste episódio, eu mi senti como em uma tortura pública. Claro que os ataques não têm o mesmo caráter físico, mas psicológico. Quando um parlamentar te agride e te chama de vagabunda na arena pública, todo mundo se sente podendo te agredir também.
Eu responsabilizo os grupos de direita movidos a ódio. Há uma dimensão ideológica por trás dos ataques à minha filha. O que ficou claro é que nem todos os que elogiam torturadores e fazem discursos pedindo intervenção militar no Brasil agiram contra minha filha. Mas os que fizeram os ataques têm estas posições.
Isso é terrível na sociedade atual que vivemos. É a era da destruição moral das pessoal via internet. Nós sentimos o baque, mas não vamos nos vitimizar. Se minha filha está bem, eu estou bem.
Tenho consciência de que só a agrediram tão fortemente por uma iniciativa perversa política.
A convenção dos Direitos das Crianças da ONU diz que elas não devem ser atacadas por opiniões políticas dos seus pais. A maior injustiça que pode haver para uma família é que os filhos paguem o preço das opções dos pais.
Senti de imediato um peso enorme. Será que minhas opções e minhas opiniões chegaram a um plano que prejudicam tão grandemente minha filha? Estou certa em seguir na vida pública? Venho me fazendo estes questionamentos todos.
É como se tivessem dito: “Aqui não é o seu lugar [no Congresso, na vida pública]. É um processo de intimidação que tem a ver com gênero, com condição de mulher e mãe.
Não importa se tem o meu marido lá, o pai dela, que é professor e cuida da nossa filha. Pagamos um preço por esse arranjo, de ser o homem que organiza sua vida de forma a estar presente e mais próximo de casa. O papel se inverteu, enquanto eu, a mulher e mãe, fico indo e voltando.
É uma família diferente, mas de gente que se ama e se cuida. Laura hoje está bem, cercada do carinho dos amigos e da família. A minha sensação é de que ela se sentiu apoiada.
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