Ex-diretor da OMC critica Bolsonaro: “Sabíamos que Hitler e Mussolini foram de alguma forma eleitos e acreditávamos que a vacina tinha funcionado”

Do Estadão
O fracasso de políticos pelo mundo em garantir progresso econômico e um governo limpo, aliado a velocidade tecnológica e desconfiança nas instituições, abriu espaço para o surgimento de líderes populistas. Quem faz o alerta é Pascal Lamy, uma das principais referências mundiais no comércio, ex-comissário da União Europeia e ex-diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC). Para ele, não há dúvidas: as democracias estão em perigo.
Em entrevista exclusiva ao Estado, o francês também deixa claro que líderes tem vencido eleições prometendo um “passado idealizado”. “Sabíamos que Hitler e Mussolini foram de alguma forma eleitos e acreditávamos que a vacina tinha funcionado. Mas não é o caso quando olhamos para deslizes perigosos ou sinais na Turquia, Hungria, Filipinas ou mesmo no Brasil”, alertou.
Lamy, que por décadas fez seu nome como um defensor do multilateralismo, também faz um alerta sobre a situação da crise entre China e EUA. “Ou eles cooperam e o mundo será um lugar melhor, ou um EUA nacionalista vai querer agressivamente conter a China, que vai se desglobalizar como reação, e o mundo vai ficar um lugar mais perigoso”, alertou.
Ao longo de sua carreira, Lamy foi ator de alguns dos principais momentos da criação da UE. Como negociador e chefe de gabinete de Jacques Delors, acompanhou o caminho para criação de uma moeda única na Europa, a assinatura dos acordos de livre circulação de pessoas e o tratado de Maastricht.
Ele admite que Trump tem em parte razão quanto ao questionamento das regras internacionais: a OMC, de fato, precisa de reformas. Mas recomenda governos a buscar alternativas para manter o sistema de regras funcionando mesmo sem os americanos, com o objetivo de evitar uma chantagem por parte da Casa Branca.
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