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Ex-jogador de futebol é citado em delação como integrante do esquema de Witzel na Saúde

José Carlos de Melo, o Zé Carlos (de camisa cinza), e o bicheiro Roberto Troca-Letra, em 2019, durante um evento, em Itaperuna Reprodução/VEJA.com

De Cássio Bruno na Veja.

Em sua delação premiada, o ex-secretário estadual de Saúde do Rio de Janeiro Edmar Santos falou sobre a influência de José Carlos de Melo, pró-reitor administrativo da Universidade Iguaçu (Unig), instituição privada na Baixada Fluminense, no governo Wilson Witzel (PSC). Em 7 de junho, VEJA revelou com exclusividade a forma de Zé Carlos, como é conhecido, operar nos bastidores da gestão Witzel. Ligado a bicheiros, ele é peça-chave nas investigações da Procuradoria-Geral da República (PGR) que envolve o governador e a primeira-dama Helena em suspeitas de corrupção na área da Saúde. Ex-jogador de futebol nos anos 1980, Zé Carlos faz, por exemplo, a intermediação de contratos milionários entre empresários e o Palácio Guanabara e indicações em cargos estratégicos, além de ter financiado informalmente campanhas eleitorais de candidatos.

Reportagem de VEJA jogou luz em Zé Carlos, personagem até então desconhecido publicamente, mas que sempre circulou no mundo político. Com atuação discreta no poder, pró-reitor foi apresentado a Wilson Witzel por Pastor Everaldo Pereira, presidente nacional do PSC, nas eleições de 2018, por indicação do ex-prefeito de Nova Iguaçu Nelson Bornier (PROS), amigo de Zé Carlos e que nega ter feito esse pedido. No encontro, também estava Edson Torres, braço-direito de Everaldo e também citado na delação de Edmar Santos, conforme mostrou o “RJTV”, da Rede Globo, neste sábado, 15. O acordo de colaboração de Edmar Santos, que chegou a ficar preso após ser alvo da Operação Marcadores do Caos, foi homologado pelo Tribunal Superior de Justiça (STJ).

Em um dos trechos da delação premiada firmada com o Ministério Público Federal (MPF), Edmar Santos diz que Zé Carlos tem Carlos Frederico Loretti da Silveira, o Kiko, como sendo seu principal operador financeiro dentro do governo. Kiko é dono de uma das empresas contratadas pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio durante a pandemia do novo coronavírus: a Health Supplies Comércio de Materiais Médicos, Cirúrgicos e Hospitalares Ltda. Os contratos com a Health Supplies estão sob investigação.

Zé Carlos tem passe livre para transitar entre as duas grandes forças dentro do governo WIlson Witzel: uma delas liderada pelo Pastor Everaldo e a outra pelo empresário Mário Peixoto, preso na Operação Favorito por suspeitas de participação em irregularidades em contratos emergenciais na área da Saúde. Peixoto é ligado ao advogado Lucas Tristão, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico, Energia e Relações Internacionais. Tristão foi exonerado por Witzel após pressão da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) na tentativa de evitar o pedido de impeachment.

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Depois que abandonou a carreira de jogador de futebol, Zé Carlos começou a trabalhar no campus da Unig em Itaperuna, no Norte do estado. Caiu nas graças do ex-deputado federal Fábio Raunheitti (PTB), morto em 2005. Passou por várias funções até assumir o comando da instituição naquele município. Raunheitti, proprietário da Unig, teve um currículo manchado por casos de corrupção. Foi cassado após o episódio que ficou conhecido como o escândalo dos Anões do Orçamento, em 1993. No Congresso, ele votou a favor da legalização do jogo do bicho. Na Alerj, o ex-zagueiro atuou ainda como chefe de gabinete do ex-deputado estadual Fábio Gonçalves, o Fabinho, um dos filhos de Raunheitti. Médico, Fabinho chegou a ficar preso.

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