Excomungado, Dom Carlos criou igreja rival ao Vaticano e celebrou missas em terreiros

Imagem: Cedido ao UOL
Em 1945, após ser excomungado pela Igreja Católica, o bispo brasileiro dom Carlos Duarte Costa rompeu publicamente com o Vaticano e fundou a Igreja Católica Apostólica Brasileira.
Em sua crítica, chamou o papa Pio 12 de “meu irmão Eugênio Pacelli” e acusou-o de apoiar uma “política fascista”.
O rompimento veio após décadas de embates com a Santa Sé, marcados por sua oposição a encíclicas papais e à posição da Igreja sobre o divórcio, o que era impensável nas décadas de 1930 e 1940.
Dom Carlos já era figura controversa desde a Revolução Constitucionalista de 1932, quando ocupava a diocese de Botucatu (SP) e passou a se envolver com causas políticas. Em 1942, foi preso pelo governo de Getúlio Vargas acusado de comunismo, após denunciar infiltrações nazistas entre católicos e apoiar publicamente o regime soviético. Defensor da liberdade religiosa, chegou a celebrar missas em terreiros de umbanda e candomblé, defendendo um Estado laico e a convivência inter-religiosa.
A Igreja Brasileira foi criada como resposta à crescente “romanização” do catolicismo no país, especialmente após a Proclamação da República, quando houve um esforço do Vaticano para manter influência religiosa diante da separação entre Igreja e Estado. Dom Carlos criticava esse alinhamento institucional e buscava um modelo mais independente e nacional de cristianismo.
Com sua morte em 1961, a Igreja Católica Apostólica Brasileira perdeu relevância e visibilidade, já que muito de sua força vinha do carisma de seu fundador e do uso frequente da imprensa carioca para difundir suas ideias.
Ainda assim, seu legado permanece como símbolo de dissidência religiosa e luta pela liberdade de culto no Brasil.