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“Existe uma demanda por uma política de esquerda mais clara”, diz Safatle

Em entrevista ao jornal Zero Hora, o filósofo Wladimir Safatle disse confiar que o Brasil está melhorando, e uma das evidências disso são, para ele, as manifestações.

“Com certeza a gente está indo para uma situação melhor do que antes. Faz parte da política brasileira que ela se decida em grande medida nas ruas. Esse é um dado da história do Brasil. A gente teve um momento nos últimos 20 anos de estabilidade, graças aos governos Lula e Fernando Henrique, em que houve menos manifestações de rua. Mas nos anos 80 havia greves gerais no Brasil, tudo parava. Nos anos 60, o Brasil era um país de alta mobilização, tanto à esquerda quanto à direita”, disse ele.

“Então eu diria que nós estamos simplesmente voltando para esse padrão de atuação política brasileira, que eu diria muito melhor, porque não é o padrão dos lobbies, dos acordos partidários escondidos, dos conchavos eleitorais. Mas é o padrão do conflito de expectativas no interior da sociedade. Acho que você tem os verdadeiros atores aí. O problema do outro modelo é que a política se transforma num grande acordo florentino, dos acertos entre partidos, que isso é o que faz com que a população tenha uma descrença em relação à política.”

Perguntado sobre como vê hoje os rumos da esquerda no Brasil, ele disse: “Existe uma demanda por uma política de esquerda mais clara. Durante muito tempo se fez pesquisa sobre direita e esquerda no Brasil e se chegava à conclusão de que a maioria da população era conservadora. Até porque boa parte das pesquisas eram baseadas em questões de costume: “você é contra ou a favor do aborto? O que pensa do casamento homossexual?” Quando se colocaram questões econômicas: “você é contra ou a favor da intervenção do Estado?”, o número de pessoas de esquerda aumentou exponencialmente, o que demonstra, muito claramente, uma consciência tácita da população brasileira de que há uma política, principalmente do campo econômico à esquerda, que é mais adequada ao Brasil.”

E acrescentou: “Mas ela desapareceu do debate, pura e simplesmente. Não há política de esquerda sem pelo menos três questões fundamentais: primeiro, uma defesa radical do igualitarismo. A gente vive num país onde mesmo essas questões que são pautas reformistas sociais democráticas clássicas, como imposto sobre grandes fortunas, estão ausentes do debate político brasileiro.”

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