Família de Lampião e Maria Bonita manteve crânios do casal em casa por 20 anos

Durante 20 anos, a família de Lampião e Maria Bonita manteve em casa os crânios do casal, guardados em caixas de madeira. Segundo Expedita Ferreira, única filha dos líderes do cangaço, e sua filha Gleuse, o cuidado com os restos mortais começou após serem avisadas, no início dos anos 2000, que o cemitério onde estavam sepultados poderia passar por mudanças. “Guardava em casa [os crânios], como se guarda uma roupa, como se guarda um sapato”, contou Expedita. Em 2021, as peças foram enviadas ao Departamento de Patologia da USP para estudos.
Os pesquisadores concluíram que a manipulação ao longo das décadas e a exposição a substâncias como querosene e sol inviabilizaram a extração de DNA. Ainda assim, as evidências históricas e materiais confirmam que eram os restos de Virgulino Ferreira da Silva e Maria Gomes de Oliveira, mortos em 1938 na Gruta de Angico. O trabalho de reconstrução mostrou que o crânio de Maria Bonita estava praticamente intacto, enquanto o de Lampião chegou em fragmentos. Laudos apontaram marcas de decapitação e fraturas causadas antes e logo após a morte.
A família planeja criar o Memorial do Cangaço, com armas, joias, fotografias e um cacho de cabelo de Maria Bonita, além de objetos pessoais do casal. Segundo o advogado Alex Daniel, o espaço será mais que um museu, servindo também como centro de estudos sobre o fenômeno do cangaço, preservando documentos, comportamentos e o legado histórico desse período.