Famílias de pacientes pagam 400 reais por 4 horas de oxigênio em Manaus
Da El País

O segurança com colete à prova de balas que corre seguido por uma mulher segura com extrema delicadeza o cilindro azul, como se fosse um bebê. É oxigênio. Os dois avançam sob um sol abrasador a um carro. “É para minha mãe”, responde Afra Benedito, de 46 anos. Conta angustiada que o botijão ajudará a senhora Fátima a respirar por mais quatro horas. Com 71 anos, o coronavírus a deixou viúva dias atrás e agora extingue sua vida em Manaus, a capital do Amazonas, onde o pesadelo de morrer asfixiado se transformou em crua realidade em hospitais e casas.
A promotoria estadual investiga mais de 50 mortes nessas terríveis circunstâncias. “Um número extremamente conservador”, alerta o epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz no Estado. (…)
“Uns morrem por falta de oxigênio, outros porque estão muito graves e pioram rapidamente. Precisamos reduzir o oxigênio de todos porque quase 90% dos internados necessitam”, afirma. Calcula que mais de 30 pacientes morreram. Perto, parentes desesperados esperam novidades. (…)
Os que podem se lançaram na corrida para conseguir oxigênio por sua conta, aflorando um novo mercado na capital amazônica. Benedito superou o primeiro desafio ―conseguir o cilindro― graças a uma vizinha. Diariamente vai em busca de fornecimento para sua mãe na Carboxi, uma empresa familiar de gases industriais que começou a atender angustiados particulares que bateram na porta. Os 400 reais da recarga mínima significam uma dinheirama.
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