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Festas clandestinas exploram diversão sem lei na pandemia

Sem máscara, ator Henri Castelli participa de festa em Barra de São Miguel, Alagoas. Foto: Reprodução/Twitter

De Rafael Galdo no Globo.

O primeiro domingo de 2021 amanhecia quando a polícia interrompeu uma pool party (festa em torno de uma piscina) sem autorização num sítio de Guaratiba, na Zona Oeste do Rio. Na internet, vídeos mostram o “antes”, centenas de pessoas ao som de música eletrônica, aglomeradas e sem máscara, diante de um palco com dançarinos e telão. E o “depois” com os frequentadores indo embora em meio à lama deixada pela chuva. Era só um entre incontáveis eventos nas últimas semanas, muitos deles clandestinos, para todos os públicos, gostos e bolsos, em que um afã coletivo por diversão tem ignorado as consequências da pandemia do coronavírus, num momento em que o país ultrapassa a marca dos 200 mil mortos pela Covid-19.

De 25 de novembro a 6 de janeiro, só o Corpo de Bombeiros do Rio recebeu 434 denúncias e precisou intervir para interditar 168 desses eventos. Em média, quase 4 por dia. Os organizadores de parte deles, contudo, desenvolveram estratégias para se manterem na surdina, sem provocar alardes para as autoridades. Entre elas, afters (festas que começam após o término das baladas noturnas) e pool parties clandestinas quase nunca têm divulgação nas redes sociais. Sob a condição de anonimato, frequentadores contam que, com as restrições da pandemia, elas costumam ser anunciadas em grupos fechados de WhatsApp, em alguns casos com seleção dos participantes, e se espalham no boca a boca.

Os ingressos são comprados por meio de transferências bancárias, inclusive pagamentos pelo PIX, mas com o endereço da festa revelado a poucas horas do início. Em geral, as festas na cidade em que mais de 15 mil pessoas já morreram de Covid-19 acontecem em sítios e chácaras afastadas, em Guaratiba, Vargem Grande, Jacarepaguá e em casas da Zona Norte.

— Às vezes pedem nos grupos de WhatsApp que ninguém poste vídeos ou fotos das festas — conta um frequentador.

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Embaladas pelo consumo de drogas sintéticas, muitas têm forte apelo comercial. No fim de semana passado, em Guaratiba, a entrada com bebida liberada custava R$ 300. O público era, majoritariamente, de homens gays, semelhante ao da R:evolution, fechada pelos bombeiros e por policiais do 23º BPM (Leblon), no último dia 29 de dezembro — esta, contudo, com ampla divulgação e realizada por uma das maiores produtoras de festas do Rio. Denúncias de aglomeração levaram os agentes até uma noitada no Faro Beach Club, no Leblon. Para a fiscalização, a festa não tinha as permissões necessárias. Mas os organizadores argumentaram, com cópias de documentos divulgadas em redes sociais, que o local tinha alvará para casa de festas e seguiu as regras contra a pandemia.

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