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Festival “É Tudo Verdade” tem documentário sobre o golpe contra Dilma

Reprodução

Da Folha:

“Deste Planalto central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável em seu grande destino.” No dourado saguão de ingresso do Palácio da Alvorada, está gravada a frase de Juscelino Kubitschek. Ela não aparece em “Alvorada”, documentário de Anna Muylaert e Lô Politi que estreia no É Tudo Verdade, mas é como se lhe servisse de epígrafe irônica. Sabemos que o que se verá é um ocaso.

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A ideia paira sobre o filme desde o lettering do título, em que as letras vão se afinando, como as colunas do palácio vistas em perspectiva, ou uma imagem que se desfaz, distorcida, no ar quente e seco de Brasília. É a noite de 17 de abril de 2016, após a abertura do processo de impeachment. Estamos dentro de um dos carros da comitiva que conduz Dilma Rousseff ao Alvorada. O clima da cena, embalada por uma sinfonia de Villa-Lobos, traduz o senso de urgência de chegar ao destino onde a presidente afastada se encastelará para produzir sua defesa.

A visão subjetiva dá a impressão de que penetraremos na intimidade de Dilma durante o processo. Essa ilusão logo se desfaz, na primeira fala da presidente às diretoras. “Eu não sou um personagem.” Ao ouvir que, sim, é, retorque. “Não. Para você. Eu não sou um personagem o tempo inteiro.” E adverte: “Tem coisas que vocês não farão, eu não vou permitir.” E define seu objetivo: “não deixar, sejamos nós ganhadores ou não, que a versão seja deles”.

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