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Fiasco de Crivella freia projeto de poder da igreja de Edir Macedo

Marcelo Crivella e Bispo Macedo. Foto: Reprodução

Da coluna de Bernardo Mello Franco no Globo:

Ao despejar Marcelo Crivella, o eleitor carioca impôs um freio ao plano de poder da Igreja Universal. Nos últimos quatro anos, o Rio virou laboratório de um projeto que mistura fé e política. Ontem essa fórmula foi rechaçada nas urnas. Crivella se elegeu em 2016 com o discurso de que governaria para todos. Foi uma das muitas promessas que ele não cumpriu. O dublê de bispo e prefeito favoreceu abertamente seu grupo religioso. Transformou a administração municipal em guichê da Universal.

O caso do “Fale com a Márcia” resumiu essa apropriação indevida. Crivella escalou uma assessora para ajudar pastores e fiéis a furarem fila nos hospitais. O escândalo deu origem a CPI e pedido de impeachment. Como estamos no Rio, também virou marchinha de carnaval. Nem a maior festa da cidade escapou da guerra santa do bispo. Ele suspendeu o apoio às escolas de samba e passou quatro anos sem pisar na Sapucaí durante os desfiles. Num ato de pura birra, também se recusou a entregar as chaves da cidade ao Rei Momo.

No reinado de Crivella, a prefeitura promoveu o obscurantismo e sufocou a diversidade. No ano passado, o bispo mandou fiscais à Bienal do Livro para apreender um gibi. Tentou ressuscitar a censura por causa do desenho de um beijo gay. A agenda reacionária tinha um objetivo claro: esconder o abandono da prefeitura. Enquanto Crivella pregava, a máquina pública deixou de funcionar. Aos poucos, a população percebeu o truque. Ele se tornou o prefeito mais impopular em décadas — uma façanha de proporções bíblicas, dado o histórico da cidade.

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