Frias ‘dava dinheiro’ para a repressão

 

A propósito da Comissão Nacional da Verdade, um texto do Terra de 2013:

O ex-delegado da Polícia Civil Claudio Guerra afirmou nesta terça-feira, à Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, que foi o autor da explosão de uma bomba no jornal O Estado de S. Paulo, na década de 1980, e afirmou que a ditadura, a partir de 1980, decidiu desencadear em todo o Brasil atentados com o objetivo de desmoralizar a esquerda no País.

“Depois de 1980 ficou decidido que seria desencadeada em todo o País uma série de atentados para jogar a culpa na esquerda e não permitir a abertura política”, disse o ex-delegado em entrevista ao vereador Natalini (PV), que foi ao Espírito Santo conversar com Guerra.

No depoimento, Guerra afirmou que “ficava clandestinamente à disposição do escritório do Sistema Nacional de Informações (SNI)” e realizava execuções a pedido do órgão.

Entre suas atividades na cidade de São Paulo, Guerra afirmou ter feito pelo menos três execuções a pedido do SNI. “Só vim saber o nome de pessoas que morreram quando fomos ver datas e locais que fiz a execução”, afirmou o ex-delegado, dizendo que, mesmo para ele, as ações eram secretas.

Guerra falou também do Coronel Brilhante Ustra e do delegado Sérgio Paranhos Fleury, a quem acusou de tortura e assassinatos. Segundo ele, Fleury “cresceu e não obedecia mais ninguém”. “Fleury pegava dinheiro que era para a irmandade (grupo de apoiadores da ditadura, segundo ele)”, acusou.

O ex-delegado disse também que Fleury torturava pessoalmente os presos políticos e metralhou os líderes comunistas no episódio que ficou conhecido como Chacina da Lapa, em 1976.

“Eu estava na cobertura, fiz os primeiros disparos para intimidar. Entrou o Fleury com sua equipe. Não teve resistência, o Fleury metralhou. As armas que disseram que estavam lá foram ‘plantadas’, afirmo com toda a segurança”, contou.

Guerra disse que recebia da irmandade “por determinadas operações bônus em dinheiro”. O ex-delegado afirmou que os recursos vinham de bancos, como o Banco Mercantil do Estado de São Paulo, e empresas, como a Ultragás e o jornal Folha de S. Paulo. “Frias (Otávio, então dono do jornal) visitava o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), era amigo pessoal de Fleury”, afirmou.

Segundo ele, a irmandade teria garantido que antigos membros até hoje tivessem uma boa situação financeira.

Segundo Guerra, os mortos pelo regime passaram a ser cremados, e não mais enterrados, a partir de 1973, para evitar “problemas”. “Enterrar estava dando problema e a partir de 1973 ou 1974 começaram a cremar. Buscava os corpos da Casa de Morte, em Petrópolis, e levava para a Usina de Campos”, relatou.

Paulo Nogueira

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Disqus Comments Loading...
Share
Published by
Paulo Nogueira

Recent Posts

VÍDEO: Tarcísio brinca com Moraes, “inimigo” do bolsonarismo, durante cerimônia em SP

Durante a cerimônia de celebração dos cem anos do TCE-SP (Tribunal de Contas do Estado…

1 minuto ago

Globo muda cobertura sobre tragédia no RS após críticas ao Fantástico; entenda

Após o desconforto da direção em relação às exibições do Fantástico no domingo (5) e…

13 minutos ago

“Sinto falta de dormir em uma cama”, diz mulher que mora em McDonald’s com mãe

Bruna Muratori, 31, e sua mãe, Susane Paula Muratori Geremia, 64, estão vivendo no McDonald's…

36 minutos ago

VÍDEO: homem invade igreja e atira contra pastor durante sermão nos EUA

Um homem invadiu uma igreja em North Braddock, na Pensilvânia, nos Estados Unidos, e disparou…

1 hora ago

RS deve ter novas tempestades nesta semana e situação pode piorar, diz Inmet

Porto Alegre e outras áreas do Rio Grande do Sul (RS) podem enfrentar mais tempestades…

1 hora ago

Daniela Lima é escalada para lugar de César Tralli na GloboNews e gera ciumeira em colegas; entenda

Daniela Lima irá ocupar o lugar de César Tralli no Edição das 18h, da GloboNews.…

2 horas ago